Fortalecer a produção de alimentos e disputar espaços foram algumas das reflexões do 4°Ciclo de Debates da Contraf-Brasil

O 4°Ciclo de Debates da Contraf-Brasil reuniu lideranças para discutir sobre Organização da Produção, Cooperativismo e Comercialização

Escrito por: Leidiane Souza • Publicado em: 30/04/2021 - 16:17 • Última modificação: 14/05/2021 - 16:00 Escrito por: Leidiane Souza Publicado em: 30/04/2021 - 16:17 Última modificação: 14/05/2021 - 16:00

Contraf-Brasil

A 4° rodada do Ciclo de Debates da Contraf-Brasil, realizado de forma virtual na manhã desta sexta-feira (30), trouxe luz à discussão de importantes aspectos sobre Organização da Produção, Cooperativismo e Comercialização.

O professor da Universidade Federal do Recôncavo Bahiano (UFRB), Silvio Porto, colaborou na construção da conversa e relembrou em sua fala que não existe no mundo máquina que seja capaz de substituir o gosto e a diversidade da agricultura familiar. E foi sob esta ótica que Porto afirmou a necessidade de que as trabalhadoras e trabalhadores na agricultura familiar do Brasil disputem os espaços na luta pela reafirmação da identidade da agricultura familiar e pelo fortalecimento da produção de alimentos saudáveis.

A agricultura familiar é oitava maior produtora de alimentos no mundo, e tem sido importante instrumento na garantia da segurança alimentar e nutricional em todo país. Além disso, tem se destacado pela sustentabilidade na produção e manejo de alimentos, respeitando sempre a biodiversidade e os recursos naturais.

De acordo com o professor, atualmente o país enfrenta uma hegemonia na produção da soja e do milho. Fora a porcentagem do plantio destinado a exportação, os produtos que sobram não representam artigos destinado apenas para animais, ou seja, utilizados para fabricação de ração.

Parte da produção de soja e milho, principalmente de soja é transformada em alimentos e pode ser encontrada nos produtos ultra processados. Para Silvio Porto, este é um grande problema a ser enfrentado. “A população brasileira possui uma alimentação baseada, majoritariamente, em produtos que não são  alimentos de verdade. Como acontece com o queijo fake, uma mercadoria que tem sido vendida como queijo, mas que na verdade é apenas um combo de gordura hidrogenada, amido, sabor artificial de queijo e diversos outros produtos químicos. Desavisadamente, as pessoas compram essas mercadorias porque são mais atrativas do ponto de vista do preço e esquecem que, na verdade, estão consumindo veneno em forma de alimento”, explicou Porto.

Segundo Silvio Porto esta é a realidade atual da alimentação brasileira e é apenas um dos desafios impostos à agricultura familiar. Na próxima safra, por exemplo, a expectativa é de que o Brasil alcance a casa de 40 milhões de hectares de soja. “Existe uma apropriação por parte do agronegócio, até mesmo de produtos que, historicamente, sempre foram vinculados à identidade e modo de vida da agricultura familiar. Isso representa a destruição dos territórios, a desorganização das economias regionais e a uma grande perda da biodiversidade.  A ampla desestruturação que vem acontecendo é o maior desafio para pensarmos como podemos reposicionar a agricultura familiar neste contexto de desmonte. Precisamos reforçar a necessidade da Reforma Agraria e fazer o debate político a partir desta narrativa”, afirmou.

Porto concluiu afirmando que é inadmissível que metade dos estabelecimentos rurais brasileiros tenham menos de 10 hectares, porque isso retira qualquer perspectiva geracional, pois os filhos e filhas que nascerem em uma família agricultora com unidade produtora com de menos 10 hectares, dificilmente permanecerão na agricultura. Além disso, o professor reforçou a importância da valorização do papel da mulher agricultora e da juventude agricultora, que apesar de participarem em todas instancias produtivas, ainda são muito invisibilizados devido a naturalização do machismo e do patriarcado.

O coordenador geral da Contraf-Brasil, Marcos Rochinski afirmou que é necessário enfrentar o modelo perverso do agronegócio e que a categoria precisa manter um pé na roça e outro na organização. “Devemos retomar o lema motivador comida verdade para o campo e para cidade. Infelizmente, cerca de 400 mil vidas já foram perdidas para Covid-19 e acredito que boa parte dessas mortes poderiam ter sido evitadas com medidas por parte do governo que facilitassem o acesso a uma boa alimentação, pois mais de 19 milhões de pessoas estão de volta a insegurança alimentar.  Nessa atual conjuntura de retrocessos, é preciso lutar contra as medidas que querem apenas abocanhar mercados institucionais em detrimento daquilo que é nossa identidade”, ponderou o dirigente.

Já secretária Geral da Contraf-Brasil, Josana de Lima relembrou que enquanto a fome cresce em todas as regiões do país, os programas destinados a subsidiar o crédito agrícola, o seguro rural e o apoio à comercialização sofreram severa desidratação no Orçamento da União para 2021. Exemplo disso, a agricultura familiar sofreu corte de  R$ 1,35 bilhão de recursos no orçamento federal. “Diante deste cenário, precisamos repensar os processos que garantam a diversificação, a organização e comercialização da produção, bem como fortalecer experiencias exitosas”, afirmou a dirigente.

Sobre os Ciclos de Debates

Todas as sextas-feiras, as agricultoras e agricultores familiares se reúnem, virtualmente, para debater um importante assunto no Ciclo de debates. Sempre às 9h30, com mediação de Vivian Libório, Assessora Técnica da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do estado da Bahia (Fetraf-BA),

 Os ciclos fazem parte de um processo preparatório de construção das pautas que serão levadas ao V Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar e é uma oportunidade para organizar a categoria na luta contra os retrocessos. O próximo encontro acontece na próxima sexta-feira (7) e trará como tema "Juventude".

O primeiro Ciclo de Debates aconteceu no dia (9/04)  e trouxe para discussão o assunto “Formação”. O professor e Assessor de formação e elaboração da Fetraf-SC,  Neuri A. Alves, foi o facilitador.  

Reforma Agrária, Territórios e Acesso à Terra, foi o tema do 2° Ciclo de debates, realizado no dia (16/04). Desta vez, a palestra ficou a cargo do Professor Titular da Universidade Federal Fluminense e Coordenador do Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO ), Carlos Walter Porto-Gonçalves. Já o 3° Ciclo de Debates da Contraf-Brasil, realizado no dia (23/04), discutiu assuntos relacionados à luta das mulheres e recebeu como palestrante a economista, mestre em sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutoranda em Ciências Sociais, Desenvolvimento e Agricultura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Luiza Dulci. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Título: Fortalecer a produção de alimentos e disputar espaços foram algumas das reflexões do 4°Ciclo de Debates da Contraf-Brasil, Conteúdo: A 4° rodada do Ciclo de Debates da Contraf-Brasil, realizado de forma virtual na manhã desta sexta-feira (30), trouxe luz à discussão de importantes aspectos sobre Organização da Produção, Cooperativismo e Comercialização. O professor da Universidade Federal do Recôncavo Bahiano (UFRB), Silvio Porto, colaborou na construção da conversa e relembrou em sua fala que não existe no mundo máquina que seja capaz de substituir o gosto e a diversidade da agricultura familiar. E foi sob esta ótica que Porto afirmou a necessidade de que as trabalhadoras e trabalhadores na agricultura familiar do Brasil disputem os espaços na luta pela reafirmação da identidade da agricultura familiar e pelo fortalecimento da produção de alimentos saudáveis. A agricultura familiar é oitava maior produtora de alimentos no mundo, e tem sido importante instrumento na garantia da segurança alimentar e nutricional em todo país. Além disso, tem se destacado pela sustentabilidade na produção e manejo de alimentos, respeitando sempre a biodiversidade e os recursos naturais. De acordo com o professor, atualmente o país enfrenta uma hegemonia na produção da soja e do milho. Fora a porcentagem do plantio destinado a exportação, os produtos que sobram não representam artigos destinado apenas para animais, ou seja, utilizados para fabricação de ração. Parte da produção de soja e milho, principalmente de soja é transformada em alimentos e pode ser encontrada nos produtos ultra processados. Para Silvio Porto, este é um grande problema a ser enfrentado. “A população brasileira possui uma alimentação baseada, majoritariamente, em produtos que não são  alimentos de verdade. Como acontece com o queijo fake, uma mercadoria que tem sido vendida como queijo, mas que na verdade é apenas um combo de gordura hidrogenada, amido, sabor artificial de queijo e diversos outros produtos químicos. Desavisadamente, as pessoas compram essas mercadorias porque são mais atrativas do ponto de vista do preço e esquecem que, na verdade, estão consumindo veneno em forma de alimento”, explicou Porto. Segundo Silvio Porto esta é a realidade atual da alimentação brasileira e é apenas um dos desafios impostos à agricultura familiar. Na próxima safra, por exemplo, a expectativa é de que o Brasil alcance a casa de 40 milhões de hectares de soja. “Existe uma apropriação por parte do agronegócio, até mesmo de produtos que, historicamente, sempre foram vinculados à identidade e modo de vida da agricultura familiar. Isso representa a destruição dos territórios, a desorganização das economias regionais e a uma grande perda da biodiversidade.  A ampla desestruturação que vem acontecendo é o maior desafio para pensarmos como podemos reposicionar a agricultura familiar neste contexto de desmonte. Precisamos reforçar a necessidade da Reforma Agraria e fazer o debate político a partir desta narrativa”, afirmou. Porto concluiu afirmando que é inadmissível que metade dos estabelecimentos rurais brasileiros tenham menos de 10 hectares, porque isso retira qualquer perspectiva geracional, pois os filhos e filhas que nascerem em uma família agricultora com unidade produtora com de menos 10 hectares, dificilmente permanecerão na agricultura. Além disso, o professor reforçou a importância da valorização do papel da mulher agricultora e da juventude agricultora, que apesar de participarem em todas instancias produtivas, ainda são muito invisibilizados devido a naturalização do machismo e do patriarcado. O coordenador geral da Contraf-Brasil, Marcos Rochinski afirmou que é necessário enfrentar o modelo perverso do agronegócio e que a categoria precisa manter um pé na roça e outro na organização. “Devemos retomar o lema motivador comida verdade para o campo e para cidade. Infelizmente, cerca de 400 mil vidas já foram perdidas para Covid-19 e acredito que boa parte dessas mortes poderiam ter sido evitadas com medidas por parte do governo que facilitassem o acesso a uma boa alimentação, pois mais de 19 milhões de pessoas estão de volta a insegurança alimentar.  Nessa atual conjuntura de retrocessos, é preciso lutar contra as medidas que querem apenas abocanhar mercados institucionais em detrimento daquilo que é nossa identidade”, ponderou o dirigente. Já secretária Geral da Contraf-Brasil, Josana de Lima relembrou que enquanto a fome cresce em todas as regiões do país, os programas destinados a subsidiar o crédito agrícola, o seguro rural e o apoio à comercialização sofreram severa desidratação no Orçamento da União para 2021. Exemplo disso, a agricultura familiar sofreu corte de  R$ 1,35 bilhão de recursos no orçamento federal. “Diante deste cenário, precisamos repensar os processos que garantam a diversificação, a organização e comercialização da produção, bem como fortalecer experiencias exitosas”, afirmou a dirigente. Sobre os Ciclos de Debates Todas as sextas-feiras, as agricultoras e agricultores familiares se reúnem, virtualmente, para debater um importante assunto no Ciclo de debates. Sempre às 9h30, com mediação de Vivian Libório, Assessora Técnica da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do estado da Bahia (Fetraf-BA),  Os ciclos fazem parte de um processo preparatório de construção das pautas que serão levadas ao V Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar e é uma oportunidade para organizar a categoria na luta contra os retrocessos. O próximo encontro acontece na próxima sexta-feira (7) e trará como tema Juventude. O primeiro Ciclo de Debates aconteceu no dia (9/04)  e trouxe para discussão o assunto “Formação”. O professor e Assessor de formação e elaboração da Fetraf-SC,  Neuri A. Alves, foi o facilitador.   Reforma Agrária, Territórios e Acesso à Terra, foi o tema do 2° Ciclo de debates, realizado no dia (16/04). Desta vez, a palestra ficou a cargo do Professor Titular da Universidade Federal Fluminense e Coordenador do Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO ), Carlos Walter Porto-Gonçalves. Já o 3° Ciclo de Debates da Contraf-Brasil, realizado no dia (23/04), discutiu assuntos relacionados à luta das mulheres e recebeu como palestrante a economista, mestre em sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutoranda em Ciências Sociais, Desenvolvimento e Agricultura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Luiza Dulci.                   



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