CPI da Covid já mostra que governo e família Bolsonaro têm muito a temer

Descaso e irresponsabilidade de Bolsonaro começa a ser documentado pela CPI da Covid

Escrito por: Gabriel Valery, da RBA • Publicado em: 06/05/2021 - 10:39 Escrito por: Gabriel Valery, da RBA Publicado em: 06/05/2021 - 10:39

EDILSON RODRIGUES/AGÊNCIA SENADO

A CPI da Covid chega ao fim de seu segundo dia com a conclusão das oitivas de dois ex-ministros da Saúde do governo Jair Bolsonaro: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Foram expostas irresponsabilidades do Planalto na condução da crise. Entre os pontos de destaque, o descaso com o vírus e o desrespeito à ciência. A postura de desdém com a saúde pública documentada na CPI coloca o presidente contra a parede. Enquanto isso, nas redes sociais, é ampla a repercussão dos depoimentos.

O escritor Marcelo Rubens Paiva resumiu as estratégias dos parlamentares durante esses dois dias. “Governistas defendem o uso da cloroquina, citam muitos especialistas, como grupo do zap (WhatsApp) do prédio. Oposição fixa o alvo na tese de imunidade de rebanho.” De fato, os senadores de base bolsonarista apelaram para uma defesa política de um medicamento comprovadamente ineficaz. Mesmo contrariados pela ciência, conforme apontaram os depoentes, eles prosseguem no mesmo ponto.

Negacionismo

A postura negacionista do governo Bolsonaro diante da covid-19 também ficou expressa por quem dá as ordens sobre políticas de saúde em seu governo. Mandetta e Teich apontaram que eram ignorados ao apontar dados científicos, como estudos que provam ineficácia e perigos de medicamentos como cloroquina e ivermectina. Mandetta chegou a expor que o presidente mantinha uma espécie de conselho paralelo sobre assuntos da pandemia. Ao invés de ouvir cientistas e o próprio ministério, ouvia seus filhos, que chegaram a participar de reuniões deliberativas.

“Não eram Darwin, Pasteur, Sabin, Oswaldo Cruz por trás das reuniões do governo durante a pandemia, mas Carlos, Eduardo Bolsonaro e o Gabinete do Ódio. Deu no que deu”, resume, novamente, Rubens Paiva.

Palavra dos cientistas

A epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel também expôs indignação sobre os fatos levados à luz pela CPI. Ela traça um histórico dos quatro ministros que já ocuparam a pasta durante a maior crise sanitária da história do Brasil, durante o governo Bolsonaro. “Mandetta: saiu porque não tinha autonomia e por causa de tratamento sem eficácia. Teich: saiu porque não tinha autonomia e por causa de tratamento sem eficácia. (Eduardo) Pazuello: aceitou a condição de não ter autonomia e instituiu o tratamento sem eficácia e saiu por causa da CPI. (Marcelo) Queiroga: entrou por causa da CPI e está conseguindo um pouco de autonomia, mas defende o presidente como se ele sempre tivesse sido a favor das vacinas – apesar das provas”, disse.

 

Ainda sobre medicamentos ineficazes do “kit covid” bolsonarista, foi exposto que Bolsonaro chegou a pressionar para mudar a bula da hidroxicloroquina. A ideia do político era forçar que brasileiros tomassem o remédio contra a covid-19. Ele chegou a utilizar o Itamaraty para fazer lobby favorável a uma empresa produtora da substância. Além disso, Bolsonaro mobilizou a estrutura de farmácia do Exército para produzir estoques de cloroquina, sem conhecimento dos titulares da pasta.

Terra plana

“Independente da tua posição político-partidária, o que está acontecendo é uma afronta a saúde pública. Estamos espreitando a 3ª onda, com estabilização (parou de cair, mas ainda mantem-se num patamar perigosamente alto) em vários estados. Chega e tolerar atitudes intoleráveis. Em crise, com transmissão descontrolada, baixa aceleração na aplicação das vacinas, aglomerações e negacionismo e as principais ações para mitigação hoje são tomadas pelos estados pela total falta de coordenação nacional”, disse a neurocientista Mellanie Fontes-Dutra. Ela ainda cita uma frase do senador Fábio Contarato (Rede-ES), que criticou a defesa apaixonada da cloroquina por parlamentares bolsonaristas. “Quem faz ciência são os cientistas em seus laboratórios. Daqui a pouco estaremos defendendo terra plana aqui.”

Bancada da cloroquina

Os senadores bolsonaristas utilizaram argumentos como “minha família tomou cloroquina”, ou “na cidade do interior do Mato Grosso o prefeito distribuiu cloroquina e funcionou”. Alguns deles chegaram até mesmo a indicar o medicamento, abertamente, para os brasileiros. Nenhum método científico foi observado. Nenhum dos argumentos em defesa do “kit covid” partiram de parlamentares médicos.

Na intenção de confundir, foram citados nomes de pesquisadores que, supostamente, defendem a cloroquina. Em particular, o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) citou o francês Didier Raoult. Raoult fraudou pesquisas em defesa de sua tese de eficácia do composto. Ele chegou a publicar desculpas por sua postura.

Entretanto, evidências não são levadas em conta pelos bolsonaristas. Heinze chegou a dizer que “estão querendo criminalizar a cloroquina e a ivermectina”. Mas o ponto é outro. Esses medicamentos são eficazes para outras doenças. No caso da cloroquina, ela é utilizada contra a malária; a ivermectina como vermífugo.

O jornalista Kennedy Alencar lamenta a fala do senador Eduardo Girão (Podemos-CE) que disse haver discordâncias na comunidade científica sobre os medicamentos. “O senador Eduardo Girão é um tipo de negacionista mais perigoso, porque cordato ao mentir na CPI. Cloroquina existe há décadas para tratar malária e tem efeito colaterais. Se usada contra covid-19, pode matar. É o que diz a ciência, que não está ‘dividida’ sobre isso”, disse.

Meio político

A CPI da Covid também reverbera alto no meio político. Deputados e lideranças expõem suas visões sobre o descaso e o negacionismo bolsonarista relatado na comissão. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) destaca dois pontos da CPI. “Teich diz que saiu do ministério por falta de autonomia e por divergências com a cloroquina. Mais um crime de responsabilidade: ‘Bolsonaro queria que a Anvisa mudasse a fórmula da cloroquina’, disse Mandetta na CPI.” Por fim, ele provoca: “Uma pergunta para CPI: há negócios da família Bolsonaro com a industria farmacêutica que produz cloroquina?”

Já a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) voltou a citar o negacionismo da bancada da cloroquina. “Senador Eduardo Girão diz na CPI que a ciência ‘está dividida’ sobre remédios e tratamentos precoces contra covid. Com todo respeito, só for nos grupos de WhatsApp da terra plana. A ciência já comprovou que a cloroquina é ineficaz”, alfinetou. Ela ainda lembrou a influência dos filhos de Bolsonaro em situações, no mínimo, descabidas. “‘O Filho do presidente, que é vereador no Rio de Janeiro, participava das reuniões tomando nota de tudo’, Mandetta ao Senado”.

Em nota, o Psol pediu impeachment “urgente” de Bolsonaro a partir dos primeiros relatos. Eles também destacam o “ministério alternativo” para assuntos da covid-19. “Mandetta denunciou ‘gabinete paralelo’ próximo a Bolsonaro para atrapalhar combate à pandemia. Teich confirma que Bolsonaro quis empurrar Pazuello e a cloroquina goela abaixo do povo. Pazuello, que assumiu pra obedecer estas medidas absurdas, foge da CPI. Impeachment Já.”

 

Título: CPI da Covid já mostra que governo e família Bolsonaro têm muito a temer, Conteúdo: A CPI da Covid chega ao fim de seu segundo dia com a conclusão das oitivas de dois ex-ministros da Saúde do governo Jair Bolsonaro: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Foram expostas irresponsabilidades do Planalto na condução da crise. Entre os pontos de destaque, o descaso com o vírus e o desrespeito à ciência. A postura de desdém com a saúde pública documentada na CPI coloca o presidente contra a parede. Enquanto isso, nas redes sociais, é ampla a repercussão dos depoimentos. O escritor Marcelo Rubens Paiva resumiu as estratégias dos parlamentares durante esses dois dias. “Governistas defendem o uso da cloroquina, citam muitos especialistas, como grupo do zap (WhatsApp) do prédio. Oposição fixa o alvo na tese de imunidade de rebanho.” De fato, os senadores de base bolsonarista apelaram para uma defesa política de um medicamento comprovadamente ineficaz. Mesmo contrariados pela ciência, conforme apontaram os depoentes, eles prosseguem no mesmo ponto. Negacionismo A postura negacionista do governo Bolsonaro diante da covid-19 também ficou expressa por quem dá as ordens sobre políticas de saúde em seu governo. Mandetta e Teich apontaram que eram ignorados ao apontar dados científicos, como estudos que provam ineficácia e perigos de medicamentos como cloroquina e ivermectina. Mandetta chegou a expor que o presidente mantinha uma espécie de conselho paralelo sobre assuntos da pandemia. Ao invés de ouvir cientistas e o próprio ministério, ouvia seus filhos, que chegaram a participar de reuniões deliberativas. “Não eram Darwin, Pasteur, Sabin, Oswaldo Cruz por trás das reuniões do governo durante a pandemia, mas Carlos, Eduardo Bolsonaro e o Gabinete do Ódio. Deu no que deu”, resume, novamente, Rubens Paiva. Palavra dos cientistas A epidemiologista e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Ethel Maciel também expôs indignação sobre os fatos levados à luz pela CPI. Ela traça um histórico dos quatro ministros que já ocuparam a pasta durante a maior crise sanitária da história do Brasil, durante o governo Bolsonaro. “Mandetta: saiu porque não tinha autonomia e por causa de tratamento sem eficácia. Teich: saiu porque não tinha autonomia e por causa de tratamento sem eficácia. (Eduardo) Pazuello: aceitou a condição de não ter autonomia e instituiu o tratamento sem eficácia e saiu por causa da CPI. (Marcelo) Queiroga: entrou por causa da CPI e está conseguindo um pouco de autonomia, mas defende o presidente como se ele sempre tivesse sido a favor das vacinas – apesar das provas”, disse.   Ainda sobre medicamentos ineficazes do “kit covid” bolsonarista, foi exposto que Bolsonaro chegou a pressionar para mudar a bula da hidroxicloroquina. A ideia do político era forçar que brasileiros tomassem o remédio contra a covid-19. Ele chegou a utilizar o Itamaraty para fazer lobby favorável a uma empresa produtora da substância. Além disso, Bolsonaro mobilizou a estrutura de farmácia do Exército para produzir estoques de cloroquina, sem conhecimento dos titulares da pasta. Terra plana “Independente da tua posição político-partidária, o que está acontecendo é uma afronta a saúde pública. Estamos espreitando a 3ª onda, com estabilização (parou de cair, mas ainda mantem-se num patamar perigosamente alto) em vários estados. Chega e tolerar atitudes intoleráveis. Em crise, com transmissão descontrolada, baixa aceleração na aplicação das vacinas, aglomerações e negacionismo e as principais ações para mitigação hoje são tomadas pelos estados pela total falta de coordenação nacional”, disse a neurocientista Mellanie Fontes-Dutra. Ela ainda cita uma frase do senador Fábio Contarato (Rede-ES), que criticou a defesa apaixonada da cloroquina por parlamentares bolsonaristas. “Quem faz ciência são os cientistas em seus laboratórios. Daqui a pouco estaremos defendendo terra plana aqui.” Bancada da cloroquina Os senadores bolsonaristas utilizaram argumentos como “minha família tomou cloroquina”, ou “na cidade do interior do Mato Grosso o prefeito distribuiu cloroquina e funcionou”. Alguns deles chegaram até mesmo a indicar o medicamento, abertamente, para os brasileiros. Nenhum método científico foi observado. Nenhum dos argumentos em defesa do “kit covid” partiram de parlamentares médicos. Na intenção de confundir, foram citados nomes de pesquisadores que, supostamente, defendem a cloroquina. Em particular, o senador Luiz Carlos Heinze (PP-RS) citou o francês Didier Raoult. Raoult fraudou pesquisas em defesa de sua tese de eficácia do composto. Ele chegou a publicar desculpas por sua postura. Entretanto, evidências não são levadas em conta pelos bolsonaristas. Heinze chegou a dizer que “estão querendo criminalizar a cloroquina e a ivermectina”. Mas o ponto é outro. Esses medicamentos são eficazes para outras doenças. No caso da cloroquina, ela é utilizada contra a malária; a ivermectina como vermífugo. O jornalista Kennedy Alencar lamenta a fala do senador Eduardo Girão (Podemos-CE) que disse haver discordâncias na comunidade científica sobre os medicamentos. “O senador Eduardo Girão é um tipo de negacionista mais perigoso, porque cordato ao mentir na CPI. Cloroquina existe há décadas para tratar malária e tem efeito colaterais. Se usada contra covid-19, pode matar. É o que diz a ciência, que não está ‘dividida’ sobre isso”, disse. Meio político A CPI da Covid também reverbera alto no meio político. Deputados e lideranças expõem suas visões sobre o descaso e o negacionismo bolsonarista relatado na comissão. O deputado federal Paulo Teixeira (PT-SP) destaca dois pontos da CPI. “Teich diz que saiu do ministério por falta de autonomia e por divergências com a cloroquina. Mais um crime de responsabilidade: ‘Bolsonaro queria que a Anvisa mudasse a fórmula da cloroquina’, disse Mandetta na CPI.” Por fim, ele provoca: “Uma pergunta para CPI: há negócios da família Bolsonaro com a industria farmacêutica que produz cloroquina?” Já a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ) voltou a citar o negacionismo da bancada da cloroquina. “Senador Eduardo Girão diz na CPI que a ciência ‘está dividida’ sobre remédios e tratamentos precoces contra covid. Com todo respeito, só for nos grupos de WhatsApp da terra plana. A ciência já comprovou que a cloroquina é ineficaz”, alfinetou. Ela ainda lembrou a influência dos filhos de Bolsonaro em situações, no mínimo, descabidas. “‘O Filho do presidente, que é vereador no Rio de Janeiro, participava das reuniões tomando nota de tudo’, Mandetta ao Senado”. Em nota, o Psol pediu impeachment “urgente” de Bolsonaro a partir dos primeiros relatos. Eles também destacam o “ministério alternativo” para assuntos da covid-19. “Mandetta denunciou ‘gabinete paralelo’ próximo a Bolsonaro para atrapalhar combate à pandemia. Teich confirma que Bolsonaro quis empurrar Pazuello e a cloroquina goela abaixo do povo. Pazuello, que assumiu pra obedecer estas medidas absurdas, foge da CPI. Impeachment Já.”  



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