Contraf Brasil: modelo agroquímico é fator decisivo no aumento do uso de agrotóxicos

A confederação avalia que o modelo de produção histórico, baseado no capital e agronegócio, é fator decisivo no aumento do uso de agrotóxicos nos estabelecimentos rurais

Escrito por: Da redação da Contraf Brasil • Publicado em: 29/10/2019 - 02:36 • Última modificação: 04/11/2019 - 11:23 Escrito por: Da redação da Contraf Brasil Publicado em: 29/10/2019 - 02:36 Última modificação: 04/11/2019 - 11:23

Divulgação Censo Agropecuário do IBGE 2017

Para a Contraf Brasil, os dados do Censo Agropecuário do IBGE 2017 divulgados na última sexta-feira, 25 de outubro, que apontam o crescimento do uso de agrotóxicos nas propriedades rurais, elevando para 20,4%, é o resultado da política e modelo de produção que tem por base o capital e o agroquímico.

Os números também revelam o quão é importante o papel da organização sindical em manter a luta e a missão de construir um projeto de desenvolvimento sustentável e solidário, que represente, definitivamente, uma ruptura do atual modelo de produção.

Dos números apresentados, entre os principais pontos destacam-se: cresce o uso de agrotóxicos nos estabelecimentos rurais; cresce o número de tratores nas propriedades; cresce o acesso à internet no campo; cresce o número da participação das mulheres nas propriedades rurais; e diminui o acesso as políticas de assistência técnica e extensão rural.

Ainda, o Censo Agropecuário de 2017 também detectou que 3.897.408 estabelecimentos atenderam aos critérios e foram classificados como agricultura familiar, o que representa 77% dos estabelecimentos agropecuários levantados pelo censo. A categoria, ocupa uma área de 80,9 milhões de hectares, ou seja, representam 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários brasileiros.

Esses números são resultados do aumento de acesso dos agricultores e agricultoras familiares as políticas públicas, que foram importantes, de forma geral, para a mecanização no campo, por exemplo, que cresceu em 49,9% com o número de tratores nos estabelecimentos, alcançando um total de 734.280 produtores em 2017.

No entanto, dentro do atual modelo de crédito baseado na agroquímica, por mais que existam iniciativas como a do Pronaf, há uma debilidade dos agentes financeiros. O agricultor que opta por um modelo de produção diferente do que temos tradicionalmente hoje em dia, ou seja, quem produz agroecologicamente, sem fazer uso de agrotóxicos, ainda encontra dificuldades em acessar políticas de crédito que fortaleçam esse setor.

Nesta lógica, ao crescer o acesso dos agricultores e agricultoras às políticas públicas sem um plano específico que represente um novo modelo de desenvolvimento sustentável, o resultado termina que canalizando, também, o aumento do uso de agrotóxicos nas pequenas propriedades.

Nós, da Contraf Brasil vemos com preocupação esse modelo de produção do Brasil e alertamos que sem a ruptura desse modelo agrícola, cada vez mais teremos agrotóxicos nos alimentos.

Em anos anteriores, o Governo demonstrava uma preocupação em não liberar novos agrotóxicos ao contrário da atual política de incentivo. Só este ano, por exemplo, já chega a 382 o número de agrotóxicos liberados pela Anvisa, número divulgado pelo Ministério da Agricultura no dia 3 de outubro. A agência, inclusive, reafirma que o processo de liberação acelerou para atender o esvaziamento da lista existente

Ater para Agricultura Familiar

O IBGE também traz outro número alarmante. A proporção de produtores que receberam orientação técnica, assistência técnica e extensão rural (ATER), diminuiu de 22% para 20,1%. Considerando que a pesquisa foi realizada em 2017 e de lá para cá, nos governos Temer e Bolsonaro, os cortes foram bem mais drásticos esse cenário é bem mais agravante.

Sem ATER, o agricultor familiar dificilmente vai avançar com o crescimento da produção, com a qualidade e valorização dos produtos oriundos da agricultura familiar. É a assistência técnica que possibilita o bom uso dos recursos naturais da terra, da água, trabalhar de forma agroecológica com o olhar para produção de alimentos com segurança alimentar.

Mulher no Campo

Em meio a esse cenário negativo e apesar dos números ainda estarem longe de representar o desenvolvimento que a Agricultura Familiar tem como princípio e missão, o Censo Agropecuário 2017 mostra que o número de mulheres aumentou na participação entre produtores. No Brasil, 81,3% dos produtores são do sexo masculino e 18,7% do sexo feminino. O aumento é significativo quando no Censo de 2016 a participação das mulheres era 12,7% do total de produtores.

A mulher tem um papel fundamental na produção de alimentos, ela que mantém o modelo agroecológico de plantar e colher, a preservação dos recursos naturais e das sementes crioulas, é por meio delas que a Agricultura Familiar ainda é o modelo que consegue manter o processo de produção de alimentos mais saudáveis no campo brasileiro.

Educação no Campo

A estatística também revelou que o acesso à internet aumentou com 1.900% desde 2006. Na pesquisa, 1.430.156 produtores declararam ter acesso à internet. E neste campo da educação, o analfabetismo entre os produtores rurais também teve leve recuo: de 24,5% para 23,03%.

Aqui vale lembrar que nos Governos Lula e Dilma foram lançados programas que levaram a internet banda larga para à 55 mil escolas públicas do país, programas que baratearam os equipamentos com crédito e isenção de impostos; criação de locais de acesso público, com serviços gratuitos, acesso à internet - os telecentros - e capacitação de pessoal das prefeituras para monitorar as atividades; implantação de laboratórios de informática em salas de aula nas escolas públicas com acesso à internet e com banda larga e qualificação dos professores. As principais iniciativas abrangeram o Programa Computador para Todos - Cidadão Conectado, Proinfo Integrado, Banda Larga nas Escolas, Um Computador por Aluno, Apoio Nacional a Telecentros, Casa Brasil, Programa de Inclusão Social e Digital entre outros.

Formato do Censo

Desde que foi lançado a proposta do Censo Agropecuário, a Contraf Brasil questionou os cortes de recursos e a metodologia aplicada. A crítica alertava que o método apontado não permitiria um olhar específico para os empreendimentos da Agricultura Familiar, o que dificultaria o retrato mais coerente do campo brasileiro, considerando a diferença real entre o que é o modelo de produção da agricultura familiar versus o modelo tradicional envolvendo o agronegócio. Infelizmente, a pauta não avançou e o governo optou por fazer com a proposta generalizada que trazem estes números apresentados de hoje.

Na avaliação da Contraf Brasil, o Censo Agropecuário 2017 demonstra que é necessário continuar a luta para que o Estado brasileiro seja provedor de políticas públicas, sobretudo da Agricultura Familiar, povos do campo, da floresta e das águas. É devido ressaltar que, são estas famílias que produzem alimentos de qualidade. Portanto, para o futuro da nação ter alimentos sem agrotóxicos é necessário a efetividade do conjunto de políticas públicas que incentivem a agroecologia, a comercialização destes produtos produzidos pela agricultura familiar, políticas de crédito adequadas aos modelos de produção sustentável e uma ATER que consiga manter a agricultura familiar dentro do modelo de produção capaz de preservar o meio ambiente e produzir alimentos sem agrotóxicos.

Documentos anexos:

- Apresentação dos dados do Censo Agropecuário 2017

- O Censo Agropecuário 2017 - por Gerson Teixeira

 

Título: Contraf Brasil: modelo agroquímico é fator decisivo no aumento do uso de agrotóxicos, Conteúdo: Para a Contraf Brasil, os dados do Censo Agropecuário do IBGE 2017 divulgados na última sexta-feira, 25 de outubro, que apontam o crescimento do uso de agrotóxicos nas propriedades rurais, elevando para 20,4%, é o resultado da política e modelo de produção que tem por base o capital e o agroquímico. Os números também revelam o quão é importante o papel da organização sindical em manter a luta e a missão de construir um projeto de desenvolvimento sustentável e solidário, que represente, definitivamente, uma ruptura do atual modelo de produção. Dos números apresentados, entre os principais pontos destacam-se: cresce o uso de agrotóxicos nos estabelecimentos rurais; cresce o número de tratores nas propriedades; cresce o acesso à internet no campo; cresce o número da participação das mulheres nas propriedades rurais; e diminui o acesso as políticas de assistência técnica e extensão rural. Ainda, o Censo Agropecuário de 2017 também detectou que 3.897.408 estabelecimentos atenderam aos critérios e foram classificados como agricultura familiar, o que representa 77% dos estabelecimentos agropecuários levantados pelo censo. A categoria, ocupa uma área de 80,9 milhões de hectares, ou seja, representam 23% da área total dos estabelecimentos agropecuários brasileiros. Esses números são resultados do aumento de acesso dos agricultores e agricultoras familiares as políticas públicas, que foram importantes, de forma geral, para a mecanização no campo, por exemplo, que cresceu em 49,9% com o número de tratores nos estabelecimentos, alcançando um total de 734.280 produtores em 2017. No entanto, dentro do atual modelo de crédito baseado na agroquímica, por mais que existam iniciativas como a do Pronaf, há uma debilidade dos agentes financeiros. O agricultor que opta por um modelo de produção diferente do que temos tradicionalmente hoje em dia, ou seja, quem produz agroecologicamente, sem fazer uso de agrotóxicos, ainda encontra dificuldades em acessar políticas de crédito que fortaleçam esse setor. Nesta lógica, ao crescer o acesso dos agricultores e agricultoras às políticas públicas sem um plano específico que represente um novo modelo de desenvolvimento sustentável, o resultado termina que canalizando, também, o aumento do uso de agrotóxicos nas pequenas propriedades. Nós, da Contraf Brasil vemos com preocupação esse modelo de produção do Brasil e alertamos que sem a ruptura desse modelo agrícola, cada vez mais teremos agrotóxicos nos alimentos. Em anos anteriores, o Governo demonstrava uma preocupação em não liberar novos agrotóxicos ao contrário da atual política de incentivo. Só este ano, por exemplo, já chega a 382 o número de agrotóxicos liberados pela Anvisa, número divulgado pelo Ministério da Agricultura no dia 3 de outubro. A agência, inclusive, reafirma que o processo de liberação acelerou para atender o esvaziamento da lista existente Ater para Agricultura Familiar O IBGE também traz outro número alarmante. A proporção de produtores que receberam orientação técnica, assistência técnica e extensão rural (ATER), diminuiu de 22% para 20,1%. Considerando que a pesquisa foi realizada em 2017 e de lá para cá, nos governos Temer e Bolsonaro, os cortes foram bem mais drásticos esse cenário é bem mais agravante. Sem ATER, o agricultor familiar dificilmente vai avançar com o crescimento da produção, com a qualidade e valorização dos produtos oriundos da agricultura familiar. É a assistência técnica que possibilita o bom uso dos recursos naturais da terra, da água, trabalhar de forma agroecológica com o olhar para produção de alimentos com segurança alimentar. Mulher no Campo Em meio a esse cenário negativo e apesar dos números ainda estarem longe de representar o desenvolvimento que a Agricultura Familiar tem como princípio e missão, o Censo Agropecuário 2017 mostra que o número de mulheres aumentou na participação entre produtores. No Brasil, 81,3% dos produtores são do sexo masculino e 18,7% do sexo feminino. O aumento é significativo quando no Censo de 2016 a participação das mulheres era 12,7% do total de produtores. A mulher tem um papel fundamental na produção de alimentos, ela que mantém o modelo agroecológico de plantar e colher, a preservação dos recursos naturais e das sementes crioulas, é por meio delas que a Agricultura Familiar ainda é o modelo que consegue manter o processo de produção de alimentos mais saudáveis no campo brasileiro. Educação no Campo A estatística também revelou que o acesso à internet aumentou com 1.900% desde 2006. Na pesquisa, 1.430.156 produtores declararam ter acesso à internet. E neste campo da educação, o analfabetismo entre os produtores rurais também teve leve recuo: de 24,5% para 23,03%. Aqui vale lembrar que nos Governos Lula e Dilma foram lançados programas que levaram a internet banda larga para à 55 mil escolas públicas do país, programas que baratearam os equipamentos com crédito e isenção de impostos; criação de locais de acesso público, com serviços gratuitos, acesso à internet - os telecentros - e capacitação de pessoal das prefeituras para monitorar as atividades; implantação de laboratórios de informática em salas de aula nas escolas públicas com acesso à internet e com banda larga e qualificação dos professores. As principais iniciativas abrangeram o Programa Computador para Todos - Cidadão Conectado, Proinfo Integrado, Banda Larga nas Escolas, Um Computador por Aluno, Apoio Nacional a Telecentros, Casa Brasil, Programa de Inclusão Social e Digital entre outros. Formato do Censo Desde que foi lançado a proposta do Censo Agropecuário, a Contraf Brasil questionou os cortes de recursos e a metodologia aplicada. A crítica alertava que o método apontado não permitiria um olhar específico para os empreendimentos da Agricultura Familiar, o que dificultaria o retrato mais coerente do campo brasileiro, considerando a diferença real entre o que é o modelo de produção da agricultura familiar versus o modelo tradicional envolvendo o agronegócio. Infelizmente, a pauta não avançou e o governo optou por fazer com a proposta generalizada que trazem estes números apresentados de hoje. Na avaliação da Contraf Brasil, o Censo Agropecuário 2017 demonstra que é necessário continuar a luta para que o Estado brasileiro seja provedor de políticas públicas, sobretudo da Agricultura Familiar, povos do campo, da floresta e das águas. É devido ressaltar que, são estas famílias que produzem alimentos de qualidade. Portanto, para o futuro da nação ter alimentos sem agrotóxicos é necessário a efetividade do conjunto de políticas públicas que incentivem a agroecologia, a comercialização destes produtos produzidos pela agricultura familiar, políticas de crédito adequadas aos modelos de produção sustentável e uma ATER que consiga manter a agricultura familiar dentro do modelo de produção capaz de preservar o meio ambiente e produzir alimentos sem agrotóxicos. Documentos anexos: - Apresentação dos dados do Censo Agropecuário 2017 - O Censo Agropecuário 2017 - por Gerson Teixeira  



Informativo CONTRAF-BRASIL

Cadastre-se e receba periodicamente
nossos boletins informativos.