Política Agrícola, Meio Ambiente, Sucessão e Renda foram os temas tratados no 6° Ciclo de debates da Contraf-Brasil
Mais de 100 agricultoras e agricultores familiares de todo país participaram do encontro virtual realizado nesta sexta-feira (21)
Escrito por: Leidiane Souza • Publicado em: 21/05/2021 - 19:59 • Última modificação: 21/05/2021 - 22:31 Escrito por: Leidiane Souza Publicado em: 21/05/2021 - 19:59 Última modificação: 21/05/2021 - 22:31Contraf-Brasil
A Contraf-Brasil está em processo preparatório para realização do V Congresso Nacional da Agricultura Familiar que, este ano, recebeu o nome João Felício – uma homenagem ao companheiro de luta que além de professor e ex-presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), foi defensor ferrenho da agricultura familiar e das demais bandeiras da base Contrafiana.
Conforme cronograma disposto no edital de convocação, até a realização do V Congresso Nacional da Agricultura Familiar João Felício, acontecerão Ciclos de Debates. Nesta etapa, o objetivo é construir, coletivamente, as pautas que serão levadas ao Congresso, marcado para os dias 15, 16 e 17 de junho.
Nesta sexta-feira (21), foi realizada a 6ª rodada do Ciclo de Debates e mais de 100 agricultoras e agricultores familiares de todo país se reuniram virtualmente para discutir importantes aspectos sobre “Política Agrícola, Meio Ambiente, Sucessão e Renda”.
A dirigente da Fetraf-Minas Gerais, Lucimar Martins iniciou a atividade com saudações aos participantes e reforçou a importância do diálogo na construção da democracia e dos avanços para toda a agricultura familiar. “Os ciclos que estamos realizando são fundamentais para nossa organização. Desde o primeiro debate, temos sido impactados com todas as informações adquiridas em cada roda de conversa. Nós, agricultoras e agricultores do campo e das florestas somos essenciais para construção de uma agricultura familiar forte e o diálogo é o caminho para alcançarmos nossos objetivos. Por isso, vamos aproveitar este momento com alegria”, pontuou a dirigente.
O doutor em Sociologia e professor do Programa de Pós Graduação em Meio Ambiente e Desenvolvimento Rural da Universidade de Brasília (UnB), Sérgio Sauer contribuiu com debate trazendo reflexões sobre os desafios impostos na atual conjuntura nos âmbitos global e nacional.
Sauer explica que são tempos de incertezas e as consequências da “necropolítica” que o país vivencia reflete diretamente na agricultura familiar. “Ao mesmo tempo que estamos inseridos em um contexto de incertezas, alertamos para um ponto que os economistas têm chamado de o novo ‘boom’ das comodities agrícolas, pautado pelo princípio de recuperação econômica de países como Estados Unidos e China. Este cenário revela os altos níveis de concentração das riquezas globais”, ponderou o professor.
Para Sérgio Sauer é fundamental que os agricultores compreendam a política global atual, porque os dados apontam para o incentivo da expansão da fronteira agrícola e dos monocultivos, ou seja, o fortalecimento econômico e político do agronegócio exportador. “A pandemia e a pós-pandemia fortalecerão ainda mais o agronegócio, em contrapartida, contribuirá também para o aprofundamento e escancaramento das desigualdades a nível mundial. Desde 2016, houve um rompimento dos acordos políticos essenciais estabelecidos na Constituição Federal de 1988, que gerou o desmantelamento de políticas importantes para o campo como, o PAA, Pronera e demais políticas de incentivo à agricultura familiar. Precisamos intensificar as discussões sobre a melhoria das condições de produção, além de apontar caminhos para o fortalecimento de produções diversificadas focadas na agroecologia, bem como resgatar a noção de que a agricultura familiar é parte essencial da produção socioambiental e da preservação da terra”, concluiu.
Já o coordenador da Fetraf-Santa Catarina, Jandir Selzler explicou que a humanidade vivencia uma conjugação de crises que tem como centralidade e motivação a lógica do capitalismo predatório. Para ele, a crise econômica tem acelerado o processo de exploração e desmonte do Estado brasileiro.
“Nós construímos a luta e organização da agricultura familiar e dos movimentos sociais centrados na defesa de um Estado forte e pautado na construção de políticas púbicas. Todos os direitos alcançados tiveram papel fundamental na criação de perspectivas de renda, permanência e sucessão no espaço rural. Entretanto, temos um governo que parte da lógica de que o país possui uma única agricultura, considerando agricultores apenas aqueles que produzem comodities”, ressaltou.
Jandir Selzler concluiu explicando que a política econômica do governo está galgada na balança comercial como única alternativa para geração de emprego e renda, e que o cenário atual está, na verdade, contribuindo apenas para o enriquecimento de meia dúzia de grandes empresas ligadas principalmente ao sistema financeiro, em detrimento da destruição da economia interna do país. “Este ciclo de retrocessos tem prejudicado todo nosso processo produtivo, seja ele no campo ou na cidade. A produção de alimentos está sendo deteriorada devido a existência de um processo de empobrecimento. Hoje, por exemplo, temos dados que constatam que 50% da população brasileira já não faz mais três refeições por dia. Podemos visualizar a fome e a insegurança alimentar de volta ao país e tudo isso é resultado do processo de desmonte do orçamento público e de políticas públicas”, concluiu o dirigente.
Sobre os Ciclos de Debates
Desde o dia (9/04), todas as sextas-feiras, agricultoras e agricultores familiares têm se reunido virtualmente para debater importantes assuntos nos Ciclos de Debates. Sempre às 9h30, com mediação de Vivian Libório, Assessora Técnica da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do estado da Bahia (Fetraf-BA).
Na próxima sexta-feira (28), acontece o último Ciclo, com o tema “Organização Sindical e Fortalecimento Institucional”. Não Perca!