Não existe desenvolvimento sustentável com o Estado diminuído
Marcos Rochinski, coordenador Geral da FERTRAF-BRASIL, proferiu discurso na 2ª CNDRSS sobre as perspectivas do desenvolvimento rural embasado em quatro pilares
Escrito por: Fernanda Silva • Publicado em: 21/10/2013 - 16:13 Escrito por: Fernanda Silva Publicado em: 21/10/2013 - 16:13Durante a 2º Conferência Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável, Marcos Rochinski, Coordenador Geral da FETRAF-BRASIL, que participou do painel Planejando o Brasil Rural Sustentável e Solidário (CNDRSS), proferiu discurso sobre as perspectivas do desenvolvimento rural embasado em quatro pilares.
Ao participar de discussões que visam melhores perspectivas e ações para o meio rural, aspectos como: atuar nos espaços de decisão; não aceitar a diminuição da estratégia do Estado para com a agricultura familiar; ser a categoria protagonista na história e; lutar pela descentralização dos investimentos, compuseram os eixos apresentados pelo Coordenador Geral da entidade.
Leia abaixo a transcrição do discurso.
Eu me perguntava que linha eu iria trabalhar, mas resolvi seguir um roteiro que temos refletido dentro nossa organização que não é dentro de questões imediatas, ou de avaliações do momento que o País vive, mas de planejar o desenvolvimento rural sustentável na perspectiva de médio e longo prazo.
Tenho quatro considerações importantes a fazer. A primeira é que hoje discutir desenvolvimento no Brasil ou em qualquer lugar do mundo não significa apenas discutir políticas públicas voltadas para a produção ou algo voltado apenas e especificamente para nós agricultores familiares.
Se queremos incidir no desenvolvimento do país e do mundo, nós precisamos necessariamente estar inseridos no conjunto das políticas e onde inclusive se determinam os rumos estratégicos e de desenvolvimento que são implantados. Senão, corremos o risco de discutir o que está em torno do nosso umbigo e enquanto isso, os rumos e investimentos estratégicos são definidos, seja no Congresso Nacional ou pelos governos, e nós ficamos à mercê se contentando apenas com as migalhas que caem das políticas públicas que muitas vezes são determinadas como muito mais compensatórias do que como estratégicas de o desenvolvimento, por esse público como políticas.
A segunda consideração é que não existe desenvolvimento sustentável e solidário, estratégico para nós agricultores familiares com o Estado diminuído. Então, qualquer atitude de privatização, de diminuição da estratégia do Estado quanto a presença da agricultura familiar nós temos que ser veementemente contra e temos que estar atentos para as disputas de projeto políticos que vem ano que vem. Por mais que temos críticas não podemos incitar e colocar em dúvida a continuidade do projeto político e democrático desse País.
Terceiro, nós precisamos garantir que o Estado brasileiro, como provedor e atuando na agricultura familiar precisa compreender que protagonismo no desenvolvimento tem que ser do povo e não das elites desse País.
Precisamos debater o conjunto das políticas do nosso país e inverter a lógica de desenvolvimento. Sabemos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) dos investimentos em portos e aeroportos, mas a lógica ainda é centralizada a partir dos grandes centros, e se não houver a descentralização dos investimentos para as regiões mais empobrecidas não vamos gerar desenvolvimento.
À partir desses quatro pressupostos de compreensão estratégica podemos pensar o nosso chão.
Pensar no desenvolvimento em municípios com menos de 50 mil habitantes é pensar em investimento estratégico em várias linhas.
Não dá pra querer ter políticas publicas desenhadas de Norte a Sul, de Lesta a Oeste. As especificidades devem ser respeitadas, assim como as diferenças, isso é principal para o gestor do País.
Não é só de políticas públicas que vive o agricultor familiar. Não é apenas a falta de renda que tiras os jovens do campo.
É preciso investimento, tecnologia, para que o campo se torne um lugar atrativo para se viver.
Quando se pensa em sair do campo, muitas vezes o fator educação é o grande motivador. Embora tenhamos avançado na educação, onde estão as universidades? Quais delas foi criada numa região iminentemente rural? Qual dos cursos foi criado para atender nosso povo, queremos ter médico agricultor, não apenas agrônomos. O que sobra para a escola rural é aquilo que não serve mais para o centro urbano.
O desenvolvimento tem que ser visto de acordo com a perspectiva da inclusão do povo da água, da floresta, dos pescadores artesanais, do semiárido. Não se pode pensar na transposição do rio São Francisco apenas para favorecer o agronegócio.
A saúde, que geralmente é pensada para o centro urbano. De maneira geral não temos nem posto de saúde na zona rural.
Pensar nas mulheres, ninguém defende o trabalho infantil, mas às vezes, a única possibilidade da mãe ficar com seu filho é leva-lo para a roça, porque pra ela não tem creche.
O que moveu as massas para as ruas recentemente, foi a questão da mobilidade. Nós também deveríamos ter ido pra rua, nós não precisamos de metrô, mas precisamos de estrada.
Pensar desenvolvimento rural sustentável e solidário é pensar em soberania alimentar.
Não dá pra pensar que o Brasil com o potencial agrícola que tem, tenha que exportar feijão, da China, do Uruguai, ou seja de qualquer outro lugar.
Precisamos de uma política de armazenagem no nosso país, e isso dialoga com o Estado forte. Não são grandes empresas como seus silos enormes que vão armazenar produto. É o Estado brasileiro como provedor de políticas públicas que tem que se preocupar com políticas dessa natureza, de armazenagem, comercialização, priorizando o desenvolvimento da agricultura familiar.
E por último temos que lutar por um modelo de desenvolvimento. Tem que se fazer a opção pelo modelo de produção. Deveríamos nos envergonhar de ser recordista no uso de agrotóxico e o modelo que tem capacidade de gerar saúde e diminuir os gatos públicos com a saúde é a agricultura familiar.
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