MP da regularização fundiária é tema de diálogo em reunião do Fórum por Direitos e Contra a Violência no Campo

Encontro contou com representantes de populações campesinas, indígenas e quilombolas, além da PFDC e da Câmara sobre Populações Indígenas e Povos Tradicionais

Escrito por: Assessoria de Comunicação e Informação/ Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) • Publicado em: 19/02/2020 - 11:40 • Última modificação: 19/02/2020 - 11:55 Escrito por: Assessoria de Comunicação e Informação/ Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) Publicado em: 19/02/2020 - 11:40 Última modificação: 19/02/2020 - 11:55

Foto: PFDC Fórum por Direitos e Contra a Violência no Campo

Representantes de órgãos colegiados, movimentos e coletivos de populações campesinas, indígenas e quilombolas estiveram reunidos nessa quinta-feira (13) com a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) e com a Câmara do MPF sobre Populações Indígenas e Povos Tradicionais. O diálogo se deu no âmbito do Fórum por Direitos e Contra a Violência no Campo, colegiado que atua como agente articulador dos diversos segmentos impactados pelo encolhimento e desarticulação de espaços institucionais voltados à proteção de populações tradicionais e à implementação do direito à reforma agrária.

Na primeira reunião deste ano, o Fórum trouxe como tema central os graves impactos da Medida Provisória 910, editada pelo governo federal em dezembro do ano passado, para conceder títulos de propriedades rurais a ocupantes de terras públicas da União. Uma das preocupações trazidas pelo colegiado foi a necessidade de incidir junto ao Legislativo, explicitando a abrangência e gravidade dos impactos sociais, ambientais e econômicos da medida.

Nesta semana, a PFDC participou de audiência pública no Congresso Nacional promovida pela comissão mista responsável por analisar a MP 910. Além do órgão do Ministério Público Federal, participaram do debate representantes do Incra, da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Defensoria Pública da União (DPU), além de deputados e senadores que integram a comissão. Na oportunidade, a procuradora Deborah Duprat destacou que o Brasil vive uma situação de desorganização fundiária que se acumula desde as sesmarias, com uma sequência de medidas provisórias sobre o tema marcadas pela pouca clareza quanto a dados acerca da propriedade de terras no país. "A regularização fundiária não é em si uma medida negativa, mas ela precisa ser realizada com responsabilidade, porque se trata de um patrimônio público - e é um princípio republicano que coisas públicas sejam implementadas de forma transparente e com informações que permitam o controle social e dos poderes instituídos".

Durante a audiência, o relator da MP 910, senador Irajá (PSD/TO), destacou que já foram recebidas 542 emendas ao texto originalmente apresentado pelo governo federal. "É possível aprimorar o texto, ajustar o que está errado, aperfeiçoar algumas coisas e implementar dispositivos que possam melhorar a proposta", pontuou. Além de ter participado da audiência pública no Congresso, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão também encaminhou aos parlamentares uma Nota Técnica com análise jurídica acerca da referida MP. O documento aponta que a proposição legislativa expõe a risco uma série de bens jurídicos constitucionalmente tutelados - tais como o acesso justo e legítimo à terra, mediante reforma agrária, o patrimônio público econômico e ambiental e os direitos de grupos étnicos e culturais.

Enfraquecimento de políticas públicas - Durante o encontro, os integrantes do Fórum por Direitos e Contra a Violência no Campo também debateram o Projeto de Lei 191/2020, de autoria do Executivo, que regulamenta a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em áreas indígenas. Na avaliação do colegiado, se aprovada, a legislação acarretará graves prejuízos a essas populações, além de abrir precedentes para que outros territórios pertencentes a comunidades tradicionais passem a ser explorados.

Também foram destacados o enfraquecimento de instituições e políticas públicas na área. Processos administrativos de demarcação de terras indígenas, ao contrário de avançarem, estão voltando para reavaliação de sua conformidade com o parecer AGU 001, mesmo em casos de determinação judicial e em fase final de decreto homologatório. Também foram mencionados procedimentos envolvendo questões quilombolas que estão paralisadas e que instituições como a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) agem contra os interesses que deveriam proteger. O grupo também ressaltou a importância da ação proposta pela Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF) contestando a nomeação de missionário para a área de índios isolados e de recente contato da Funai. A ação recebeu o número 1007395-45.2020.4.01.3400 e foi assinada pelos procuradores da República Gustavo Kenner Alcântara, Márcia Brandão Zollinger, Julio José Araujo Junior e Luis de Camões Lima Boaventura.

O diálogo também colocou sob enfoque a necessidade de unir esforços em torno da educação no campo. Segundo relatos do grupo, o ano de 2019 registrou o fechamento de diversas escolas localizadas em comunidades quilombolas, e o Fórum tem já tabulados alguns dados sobre o assunto. Ainda na perspectiva do ensino, a iminência de cortes no programa de Bolsa Permanência tem gerado incertezas nos estudantes, que temem ver comprometidas as chances de conclusão do ensino superior.

A reunião do Fórum por Direitos deliberou que a prioridade será nos inúmeros despejos previstos para ocorrer neste ano. Além da procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, estiveram presentes o membro da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR), subprocurador-geral da República Mário Bonsaglia, a procuradora Márcia Zollinger, da Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF), e, por videoconferência, o procurador da República Julio José Araujo Junior, coordenador do GT Reforma Agrária da PFDC. Também participaram representantes das seguintes instituições: Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDMH) da Câmara dos Deputados; gabinete do deputado Patrus Ananias (PT/MG); Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH); Movimento de Atingidos por Barragens (MAB); Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN); Conselho Indigenista Missionário (Cimi); Organização dos Povos Indígenas (OPI); Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida; Terra de Direitos, Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra); Rede Justiça Criminal; Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Conselho Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq); Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag); Articulação dos Povos Indígenas (APIB); Movimento Camponês Popular (MCP); Centro de Assessoria e Apoio à Iniciativas Sociais (Cais); e Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar no Brasil (Contraf Brasil).

Assessoria de Comunicação e Informação
Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC)
Ministério Público Federal

Título: MP da regularização fundiária é tema de diálogo em reunião do Fórum por Direitos e Contra a Violência no Campo, Conteúdo: Representantes de órgãos colegiados, movimentos e coletivos de populações campesinas, indígenas e quilombolas estiveram reunidos nessa quinta-feira (13) com a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) e com a Câmara do MPF sobre Populações Indígenas e Povos Tradicionais. O diálogo se deu no âmbito do Fórum por Direitos e Contra a Violência no Campo, colegiado que atua como agente articulador dos diversos segmentos impactados pelo encolhimento e desarticulação de espaços institucionais voltados à proteção de populações tradicionais e à implementação do direito à reforma agrária. Na primeira reunião deste ano, o Fórum trouxe como tema central os graves impactos da Medida Provisória 910, editada pelo governo federal em dezembro do ano passado, para conceder títulos de propriedades rurais a ocupantes de terras públicas da União. Uma das preocupações trazidas pelo colegiado foi a necessidade de incidir junto ao Legislativo, explicitando a abrangência e gravidade dos impactos sociais, ambientais e econômicos da medida. Nesta semana, a PFDC participou de audiência pública no Congresso Nacional promovida pela comissão mista responsável por analisar a MP 910. Além do órgão do Ministério Público Federal, participaram do debate representantes do Incra, da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e da Defensoria Pública da União (DPU), além de deputados e senadores que integram a comissão. Na oportunidade, a procuradora Deborah Duprat destacou que o Brasil vive uma situação de desorganização fundiária que se acumula desde as sesmarias, com uma sequência de medidas provisórias sobre o tema marcadas pela pouca clareza quanto a dados acerca da propriedade de terras no país. A regularização fundiária não é em si uma medida negativa, mas ela precisa ser realizada com responsabilidade, porque se trata de um patrimônio público - e é um princípio republicano que coisas públicas sejam implementadas de forma transparente e com informações que permitam o controle social e dos poderes instituídos. Durante a audiência, o relator da MP 910, senador Irajá (PSD/TO), destacou que já foram recebidas 542 emendas ao texto originalmente apresentado pelo governo federal. É possível aprimorar o texto, ajustar o que está errado, aperfeiçoar algumas coisas e implementar dispositivos que possam melhorar a proposta, pontuou. Além de ter participado da audiência pública no Congresso, a Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão também encaminhou aos parlamentares uma Nota Técnica com análise jurídica acerca da referida MP. O documento aponta que a proposição legislativa expõe a risco uma série de bens jurídicos constitucionalmente tutelados - tais como o acesso justo e legítimo à terra, mediante reforma agrária, o patrimônio público econômico e ambiental e os direitos de grupos étnicos e culturais. Enfraquecimento de políticas públicas - Durante o encontro, os integrantes do Fórum por Direitos e Contra a Violência no Campo também debateram o Projeto de Lei 191/2020, de autoria do Executivo, que regulamenta a exploração de recursos minerais, hídricos e orgânicos em áreas indígenas. Na avaliação do colegiado, se aprovada, a legislação acarretará graves prejuízos a essas populações, além de abrir precedentes para que outros territórios pertencentes a comunidades tradicionais passem a ser explorados. Também foram destacados o enfraquecimento de instituições e políticas públicas na área. Processos administrativos de demarcação de terras indígenas, ao contrário de avançarem, estão voltando para reavaliação de sua conformidade com o parecer AGU 001, mesmo em casos de determinação judicial e em fase final de decreto homologatório. Também foram mencionados procedimentos envolvendo questões quilombolas que estão paralisadas e que instituições como a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) agem contra os interesses que deveriam proteger. O grupo também ressaltou a importância da ação proposta pela Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF) contestando a nomeação de missionário para a área de índios isolados e de recente contato da Funai. A ação recebeu o número 1007395-45.2020.4.01.3400 e foi assinada pelos procuradores da República Gustavo Kenner Alcântara, Márcia Brandão Zollinger, Julio José Araujo Junior e Luis de Camões Lima Boaventura. O diálogo também colocou sob enfoque a necessidade de unir esforços em torno da educação no campo. Segundo relatos do grupo, o ano de 2019 registrou o fechamento de diversas escolas localizadas em comunidades quilombolas, e o Fórum tem já tabulados alguns dados sobre o assunto. Ainda na perspectiva do ensino, a iminência de cortes no programa de Bolsa Permanência tem gerado incertezas nos estudantes, que temem ver comprometidas as chances de conclusão do ensino superior. A reunião do Fórum por Direitos deliberou que a prioridade será nos inúmeros despejos previstos para ocorrer neste ano. Além da procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Deborah Duprat, estiveram presentes o membro da Câmara de Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais do MPF (6CCR), subprocurador-geral da República Mário Bonsaglia, a procuradora Márcia Zollinger, da Procuradoria da República no Distrito Federal (PRDF), e, por videoconferência, o procurador da República Julio José Araujo Junior, coordenador do GT Reforma Agrária da PFDC. Também participaram representantes das seguintes instituições: Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDMH) da Câmara dos Deputados; gabinete do deputado Patrus Ananias (PT/MG); Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH); Movimento de Atingidos por Barragens (MAB); Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN); Conselho Indigenista Missionário (Cimi); Organização dos Povos Indígenas (OPI); Campanha Permanente contra os Agrotóxicos e pela Vida; Terra de Direitos, Associação Brasileira de Reforma Agrária (Abra); Rede Justiça Criminal; Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST); Conselho Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq); Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag); Articulação dos Povos Indígenas (APIB); Movimento Camponês Popular (MCP); Centro de Assessoria e Apoio à Iniciativas Sociais (Cais); e Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar no Brasil (Contraf Brasil). 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