Filha de agricultores familiares diz 'É preciso esperançar' após Seminário do Sintraf de Coité

A carta foi escrita durante o III Seminário Municipal da Juventude Rural realizado pelo Sintraf do município de Conceição do Coité

Escrito por: Ascom Contraf Brasil • Publicado em: 29/05/2018 - 20:25 • Última modificação: 29/05/2018 - 20:29 Escrito por: Ascom Contraf Brasil Publicado em: 29/05/2018 - 20:25 Última modificação: 29/05/2018 - 20:29

Sintraf Rúthila Almeida

O Sintraf do município de Conceição do Coité, na Bahia, realizou o III Seminário Municipal da Juventude Rural, com o tema ‘Juventudes e a Democracia que queremos: um debate Social e Político’. Com a participação de mais de 200 jovens o objetivo foi fortalecer a organização e promover a reflexão da juventude sobre a atual conjuntura política.

Nesta perspectiva, os resultados foram alcançados e o exemplo veio de uma estudante, Rúthila Almeida, 16 anos, filha de agricultores familiares. Ela escreveu um texto que descreve a importância de iniciativas como a do Seminário na sua cidade, o que ela aprendeu e sua reflexão sobre a situação do país.

Veja na íntegra:

É preciso esperançar...

Foi exatamente isso que a juventude rural de Conceição do Coité fez neste final de semana, esperançamos. Participamos do III Seminário da Juventude Rural, realizado pelo SINTRAF e pelo Coletivo de Jovens de Coité. O tema discutido esse ano foi “Juventude e a democracia que queremos. Um debate social e político”. Foram quase dois dias de muito conhecimento, troca de informações, experiências e realidades. Foi um momento ímpar, não só por que fui implicada com o tema, mas por que o momento é agora e estamos precisando muito falar sobre esse tema tão urgente, e acima de tudo chamar reforços, os nossos jovens.

Muitas pessoas foram ouvidas, pessoas que já tem uma caminhada política e nos movimentos sociais há muito tempo, pessoas que também foram jovens, que passaram por realidades semelhantes, mas não iguais, tendo em vista as oportunidades de acesso à educação, trabalho, saúde e moradia de trinta ou vinte anos atrás.

Foi um processo de muita reflexão, afinal, apesar de estar recentemente no meio dos movimentos sociais, por vezes, me perco na dimensão política na nossa vida e como ela nos toca diretamente. Creio que para a maioria dos jovens ali presentes, com idades tão diversas, o sentimento não foi diferente. Foi perceptível no olhar de cada um e cada uma que sabem do que acontece no país, mas um saber superficial. O que mais chamou minha atenção foi quando começamos a debater sobre “Intervenção Militar” e como estes jovens, que em maioria já estão no Ensino Médio, ficaram com aquela cara de que não tinham dimensão alguma do que essas duas palavras significam de fato e mais ainda, pensar que essa galerinha, a todo momento, compartilha e curte notícias nas redes sociais e em seus grupos de familiares, amigos e colegas.

O fato é que, apesar disso e de alguns entraves (que fazem parte do processo), eu me vi cheia de esperança. Foram palestras, rodas de discussão, plenária, ato da pré-candidatura de Lula e mais conversas nos intervalos. No final, eu pude olhar para todos aqueles rostos e ver semblantes de pessoas pensativas, reflexivas, alguns com olhares assustados, outros com olhar de contemplação.

Me emocionei. Primeiro, porque já fui com uma carga de tensão muito grande devido os últimos acontecimentos e as incertezas dos rumos do país. Segundo, em muitos momentos, fui tirada da minha zona de conforto e refleti sobre os privilégios de ser uma mulher “branca”, vinda de uma família tradicional, com ensino superior. Terceiro, vi pessoas, lideranças de vários grupos que atuam em minha cidade, se dando ao máximo para tocar cada um daqueles jovens (para além do status e do ego que possam ser apontados a eles), por acreditarem na injustiça que se comete hoje a esse país e toda a população, por acreditarem que somos nós, responsáveis pela transformação que possa acontecer nele. Eu sei, é muito utópico, até romântico, mas não impossível.

O futuro é incerto, a única certeza que tenho é do presente, é o agora, e que é preciso conhecimento sobre o que acontece, é preciso ações que façam as pessoas se implicarem, como essa que foi feita com a juventude rural, e para além dela, sempre, em todos os âmbitos, fazer esses jovens pensarem sobre o que fazem no mundo e importância da política e como ela rege nossa realidade, desde o campo à cidade. É preciso construir consciência política, desde sempre, para que num futuro, (eu espero que não muito distante), erros graves como esses que se repetem novamente na nossa história, não sejam repetidos.

São necessárias ações efetivas da esquerda e da sociedade civil. Ações conjuntas, sem egos, tendo como único objetivo: resolver essa situação caótica instaurada, sem precisar cometer lapsos de loucura e gritar “Bols......2018” e “Intervenção Militar”. É quase suicídio!!!

É necessário esperançar, sempre! Como bem colocou Freire:

“Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”.

Avante!!!

Rúthila Almeida

Título: Filha de agricultores familiares diz 'É preciso esperançar' após Seminário do Sintraf de Coité, Conteúdo: O Sintraf do município de Conceição do Coité, na Bahia, realizou o III Seminário Municipal da Juventude Rural, com o tema ‘Juventudes e a Democracia que queremos: um debate Social e Político’. Com a participação de mais de 200 jovens o objetivo foi fortalecer a organização e promover a reflexão da juventude sobre a atual conjuntura política. Nesta perspectiva, os resultados foram alcançados e o exemplo veio de uma estudante, Rúthila Almeida, 16 anos, filha de agricultores familiares. Ela escreveu um texto que descreve a importância de iniciativas como a do Seminário na sua cidade, o que ela aprendeu e sua reflexão sobre a situação do país. Veja na íntegra: É preciso esperançar... Foi exatamente isso que a juventude rural de Conceição do Coité fez neste final de semana, esperançamos. Participamos do III Seminário da Juventude Rural, realizado pelo SINTRAF e pelo Coletivo de Jovens de Coité. O tema discutido esse ano foi “Juventude e a democracia que queremos. Um debate social e político”. Foram quase dois dias de muito conhecimento, troca de informações, experiências e realidades. Foi um momento ímpar, não só por que fui implicada com o tema, mas por que o momento é agora e estamos precisando muito falar sobre esse tema tão urgente, e acima de tudo chamar reforços, os nossos jovens. Muitas pessoas foram ouvidas, pessoas que já tem uma caminhada política e nos movimentos sociais há muito tempo, pessoas que também foram jovens, que passaram por realidades semelhantes, mas não iguais, tendo em vista as oportunidades de acesso à educação, trabalho, saúde e moradia de trinta ou vinte anos atrás. Foi um processo de muita reflexão, afinal, apesar de estar recentemente no meio dos movimentos sociais, por vezes, me perco na dimensão política na nossa vida e como ela nos toca diretamente. Creio que para a maioria dos jovens ali presentes, com idades tão diversas, o sentimento não foi diferente. Foi perceptível no olhar de cada um e cada uma que sabem do que acontece no país, mas um saber superficial. O que mais chamou minha atenção foi quando começamos a debater sobre “Intervenção Militar” e como estes jovens, que em maioria já estão no Ensino Médio, ficaram com aquela cara de que não tinham dimensão alguma do que essas duas palavras significam de fato e mais ainda, pensar que essa galerinha, a todo momento, compartilha e curte notícias nas redes sociais e em seus grupos de familiares, amigos e colegas. O fato é que, apesar disso e de alguns entraves (que fazem parte do processo), eu me vi cheia de esperança. Foram palestras, rodas de discussão, plenária, ato da pré-candidatura de Lula e mais conversas nos intervalos. No final, eu pude olhar para todos aqueles rostos e ver semblantes de pessoas pensativas, reflexivas, alguns com olhares assustados, outros com olhar de contemplação. Me emocionei. Primeiro, porque já fui com uma carga de tensão muito grande devido os últimos acontecimentos e as incertezas dos rumos do país. Segundo, em muitos momentos, fui tirada da minha zona de conforto e refleti sobre os privilégios de ser uma mulher “branca”, vinda de uma família tradicional, com ensino superior. Terceiro, vi pessoas, lideranças de vários grupos que atuam em minha cidade, se dando ao máximo para tocar cada um daqueles jovens (para além do status e do ego que possam ser apontados a eles), por acreditarem na injustiça que se comete hoje a esse país e toda a população, por acreditarem que somos nós, responsáveis pela transformação que possa acontecer nele. Eu sei, é muito utópico, até romântico, mas não impossível. O futuro é incerto, a única certeza que tenho é do presente, é o agora, e que é preciso conhecimento sobre o que acontece, é preciso ações que façam as pessoas se implicarem, como essa que foi feita com a juventude rural, e para além dela, sempre, em todos os âmbitos, fazer esses jovens pensarem sobre o que fazem no mundo e importância da política e como ela rege nossa realidade, desde o campo à cidade. É preciso construir consciência política, desde sempre, para que num futuro, (eu espero que não muito distante), erros graves como esses que se repetem novamente na nossa história, não sejam repetidos. São necessárias ações efetivas da esquerda e da sociedade civil. Ações conjuntas, sem egos, tendo como único objetivo: resolver essa situação caótica instaurada, sem precisar cometer lapsos de loucura e gritar “Bols......2018” e “Intervenção Militar”. É quase suicídio!!! É necessário esperançar, sempre! Como bem colocou Freire: “Esperançar é se levantar, esperançar é ir atrás, esperançar é construir, esperançar é não desistir! Esperançar é levar adiante, esperançar é juntar-se com outros para fazer de outro modo”. Avante!!! Rúthila Almeida



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