Contraf-Brasil debate desafios urgentes da reforma agrária e reforça necessidade de reorganização da luta no campo
Escrito por: Letícia Lima • Publicado em: 25/11/2025 - 16:29 Escrito por: Letícia Lima Publicado em: 25/11/2025 - 16:29
Contraf Brasil Arquivo Pessoal
O ciclo de debates sobre reforma agrária realizado pela Contraf-Brasil, no dia 21 de outubro de 2025, encerrou-se com a percepção de que o tema precisa voltar ao centro das prioridades do movimento sindical e do governo federal. O encontro reuniu lideranças de diferentes estados e escancarou um cenário marcado por abandono de assentamentos, demora em programas federais e crescente precarização das condições de vida de milhares de famílias acampadas.
A atividade fez parte de um esforço nacional da Contraf para atualizar diagnósticos e construir estratégias para os próximos anos. As falas convergiram para a necessidade de fortalecer a organização da base, retomar o caráter político da reforma agrária e unificar ações em defesa da agricultura familiar.
O debate iniciou destacando que ainda há mais de 2 milhões de trabalhadores sem acesso à terra, enquanto muitos assentamentos permanecem ociosos pela falta de investimentos e assistência técnica. Para as lideranças, a pauta perdeu força institucional e precisa ser retomada com planejamento e ação articulada. “A gente precisa sair do discurso e ir para a prática”, afirmou um dos dirigentes ao lembrar que a Confederação deve assumir novamente o protagonismo do tema.
Uma das situações mais graves apresentadas veio do Pará, onde apenas metade dos 2 mil acampamentos organizados possui área para permanecer. Famílias vivem há anos sob lona preta e enfrentam atrasos de até seis meses na entrega de cestas básicas, mesmo estando abaixo da linha da pobreza. Casos de reintegração de posse colocam centenas de pessoas em risco. A denúncia reforçou a urgência de respostas estruturais e de prioridade política para a região.
Entre os entraves nacionais, destacou-se também a falta de orçamento para consolidar assentamentos e apoiar a produção. Dirigentes lembraram que o investimento federal atual não cobre sequer as necessidades básicas de infraestrutura, estradas e insumos. Segundo foi apontado no debate, qualquer projeto sério de reforma agrária exigiria valores muito superiores aos disponibilizados hoje.
Outro ponto que gerou preocupação foi o modelo de chamada pública para seleção de famílias, que estaria permitindo a entrada de pessoas sem trajetória de luta e excluindo acampados históricos. Para as lideranças, a distorção enfraquece a mobilização e prejudica a continuidade da organização social nos territórios. “Quem luta pela terra precisa ser o primeiro a ser reconhecido”, defendeu uma das falas.
Apesar das dificuldades, o encontro terminou com disposição para reorganizar a pauta e intensificar a pressão por políticas públicas. A necessidade de unificar ações nacionais, fortalecer acampamentos produtivos e construir uma estratégia para os próximos anos foi unanimidade. “Sem organização e sem pressão, nada avança”, resumiu um dirigente ao encerrar o debate.
