Censo aponta dificuldade em manter jovens no campo como obstáculo ao crescimento da agricultura familiar
Dados preliminares do Censo Agropecuário de 2017 apontam envelhecimento dos trabalhadores rurais sem reposição nas camadas etárias mais baixas
Escrito por: Agência Câmara Notícias - Reportagem – João Pitella Junior / Edição – Ana Chalub • Publicado em: 28/05/2018 - 12:03 • Última modificação: 28/05/2018 - 12:09 Escrito por: Agência Câmara Notícias - Reportagem – João Pitella Junior / Edição – Ana Chalub Publicado em: 28/05/2018 - 12:03 Última modificação: 28/05/2018 - 12:09Michel Jesus Audiência na Câmara dos deputados
A dificuldade para manter os jovens no campo foi apontada, em debate na Câmara dos Deputados, como um dos principais obstáculos ao crescimento da agricultura familiar no Brasil. Audiência pública promovida pela Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural, realizada por iniciativa do deputado Heitor Schuch (PSB-RS), teve o objetivo de analisar dados preliminares do Censo Agropecuário de 2017, cujos resultados finais serão divulgados em julho pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O coordenador do Censo, Antonio Florido, ressaltou que os números levantados até agora apontam para uma tendência de aumento da idade média dos trabalhadores agropecuários no Brasil. “O produtor está envelhecendo e não está havendo reposição nas camadas etárias mais baixas”, observou. Segundo ele, os trabalhadores do setor têm buscado outras fontes de renda além das suas atividades tradicionais.
A Coordenadora do Programa de Agricultura Familiar da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Daniela Bittencourt, alertou que os jovens não querem mais ficar no campo. “Para mantê-los, temos que buscar soluções para os sistemas produtivos, buscar tecnologias específicas para cada área e apoiar o pequeno produtor. A tecnologia não está chegando ao pequeno; ou, se está chegando, não corresponde à sua realidade. Vamos poder mudar isso conhecendo a realidade de cada região do País”, afirmou, salientando a importância dos dados que serão obtidos por meio do novo Censo Agropecuário.
Daniela Bittencourt explicou que a agricultura familiar poderá ser fortalecida pela formação de mercados alternativos focados, por exemplo, em produtos artesanais ou no turismo rural. A Embrapa, segundo ela, vem incentivando o desenvolvimento sustentável do campo e aperfeiçoando, por meio da inclusão tecnológica, a organização das cadeias de produção e comercialização da agricultura familiar.
O deputado Heitor Schuch ponderou que o aumento da idade da população rural é um sinal positivo do crescimento da expectativa de vida dos brasileiros, mas ressaltou que isso gera a necessidade de novas políticas públicas. “Precisamos fazer a sucessão rural e segurar a juventude no campo. O Censo Agropecuário apontará caminhos nesse sentido”, destacou o parlamentar.
Estratégia educacional
Representantes de trabalhadores rurais apontaram, durante a audiência, outros problemas que precisam ser enfrentados para garantir o estímulo à agricultura familiar: assistência técnica insuficiente, dificuldades na comercialização dos produtos, falta de transporte escolar, existência de estradas sem asfalto, aumento da violência no campo e falta de políticas públicas específicas para as mulheres agricultoras.
A audiência também contou com a participação de Mauro Eduardo Del Grossi, professor do Programa de Pós-Graduação em Gestão Pública da Universidade de Brasília (UnB) e integrante do Programa de Pós-Graduação em Agronegócios (Propaga).