Pesquisa mostra que de 108 cidades do Nordeste, 40 (37%) não realizaram a distribuição de cestas a estudantes, autorizada pelo Ministério da Educação
Pesquisa em 108 municípios do Nordeste e semiárido brasileiro revela que em quase metade dessas cidades os governos não estão comprometidos com a distribuição de cestas básicas aos estudantes. Autorizada pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Escolar (FNDE/MEC) logo após a suspensão das aulas, no início da pandemia, a distribuição de cestas não foi realizada em 40 (37%) dos municípios.
Outro dado alarmante é que 74 (44%) de 168 grupos produtivos, que até 2019 vendiam alimentos saudáveis e diversificados ao Programa Nacional de Alimentos (PNAE), não o fizeram em 2020.
A pesquisa foi realizada pela Articulação Semiárido (ASA) e o Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN). Durante agosto e setembro passados, as entidades ouviram 168 grupos produtivos de agricultores familiares e pescadores artesanais. Todos fornecedores de alimentos para as escolas públicas, presentes nos municípios.
“O PNAE é o principal instrumento que temos para enfrentar a insegurança alimentar das crianças e adolescentes durante a pandemia. Por isso a omissão dos governantes em relação à distribuição das cestas da alimentação escolar é muito grave. Perdem as crianças, muitas das quais têm na alimentação escolar a principal refeição do dia. E, com a interrupção das compras, perdem os agricultores familiares que dependem desse canal de comercialização para seu sustento”, destaca Mariana Santarelli, do FBSSAN.
Situação de pobreza
Para a pesquisa sobre as cestas básicas no semiárido, a escolha pelo Nordeste não foi em vão. A região tem 72% de sua área caracterizada como semiárida. E historicamente concentra um grande número de pessoas em situação de pobreza e miséria. A pesquisa Síntese de Indicadores Sociais (SIS), divulgada pelo IBGE em dezembro de 2018, mostra que o Nordeste concentra 44% das pessoas em situação de pobreza do Brasil, o equivalente a 24,5 milhões de pessoas.
No Brasil todo, foram contabilizadas 54,8 milhões de pessoas em situação de pobreza, o que representa cerca de um quarto da população (26,5%).