Conciliar o trabalho no campo com a militância em prol das mulheres não é fácil. Para chegar à sede da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura (Fetraf/MA) em São Luís, a agricultora e coordenadora do movimento Graça Amorim precisa deixar a propriedade em Alcântara, pegar pau de arara - um tipo de ônibus improvisado, e depois passar pouco mais de uma hora viajando de barco para chegar à capital.
Para Graça, agricultora desde pequena e no movimento há 11 anos, as conquistas obtidas pelas mulheres do campo recompensam o esforço. Na entrevista a seguir, ela fala da importância do mês da Mulher e destaca os principais êxitos das trabalhadoras rurais.
O que o Dia Internacional das Mulheres, comemorado em 8 de março, representa para as mulheres do campo?
É um dia muito importante, pois remete às conquistas obtidas pelas mulheres nos últimos anos. Mas não é uma data só comemorativa não. Também é um momento para avaliar o que já foi feito e se conscientizar de que ainda temos muitas lutas pela frente.
As mulheres do campo têm o que comemorar no dia 8 de março?
Temos muitos motivos para comemorar, mas sem se acomodar. Nos últimos anos, o governo federal construiu casas de apoio às mulheres vítimas de violência, investiu em programas de acesso à documentação da trabalhadora rural, concedeu a titularidade prioritária da terra para as mulheres e mudou as regras do Bolsa Família e do Minha Casa Minha Vida, para beneficiar as chefes de família por exemplo. Todas essas são conquistas históricas e muito importantes.
Na sua avaliação, qual o papel das mulheres nos movimentos sociais?
As mulheres conquistaram um espaço importante nos movimentos sociais. Na Fetraf, já chegaram a assumir o cargo mais alto, de coordenadora nacional, e têm grande representatividade em todas as diretorias. Aqui no Maranhão, adotamos a paridade participativa de gênero - 50% dos trabalhadores que compõem a diretoria são mulheres.
Na federação, além de incentivar a luta pela terra e a organização, costumamos debater bastante sobre políticas que promovam a saúde e erradicação da violência contra a mulher.
E como começou sua trajetória como agricultora?
Sou nascida e criada em Alcântara, em uma comunidade chamada prainha. Trabalho como agricultora desde pequena. Até matemática aprendi no campo, contando grãos de milho que colocava na terra. Meu pai falava assim: ‘coloca quatro caroços. Um, dois, três, quatro’, e a gente aprendia. Inclusive, também foi o trabalho na roça que me levou à militância. Primeiro, na Igreja, na Comunidade Eclesial de Base. Depois na Central Única dos Trabalhadores, em movimentos de mulheres, no sindicalismo. Mas nunca abandonei o ofício. Hoje, na minha propriedade, planto hortaliças, mandioca e crio galinhas. Dos quatro filhos, um permanece em casa me ajudando, quando não está trabalhando fora. Ele é gestor ambiental.
E como é conciliar o trabalho no campo com o trabalho na Fetraf?
Não é fácil. Só para chegar à sede estadual da Federação, em São Luís, preciso andar, pegar pau de arara e ainda fazer parte do percurso de barco. E na volta é a mesma coisa. Mas tenho consciência que é um trabalho importante e muito recompensador. Ver uma mulher recebendo as chaves da casa própria, pelo Minha Casa Minha Vida, ou recebendo a titularidade de sua terra, é muito emocionante. Como liderança e como mulher a gente sabe que a casa tem um significado muito especial para ela e para a família. Não tem preço.
Graça, que mensagem daria para as mulheres?
Para que nunca percam a esperança de que o mundo será melhor. E tenham consciência de que o nosso trabalho, nosso empenho e nossa firmeza são essenciais para essa melhora. Em ano de eleições municipais, também peço às mulheres que conheçam as candidatas mulheres, votem nas mulheres, para que mais mulheres sejam responsáveis pelas decisões dos municípios, dos estados e do país. Pra nossa luta cada dia mais forte.