Há 21 anos, a data de 25 de novembro, Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres, foi criado pela Organização das Nações Unidas (ONU) como uma homenagem às irmãs Mirabal (Pátria, Minerva e Maria Teresa), conhecidas como Las Marisposas, assassinadas pela ditadura de Leônidas Trujillo na República Dominicana. A data é uma oportunidade de refletir sobre a situação de violência no mundo.
Com o isolamento causado pela pandemia do novo coronavírus, a violência contra a mulher se agravou em todo o mundo. De acordo com dados da ONU Mulheres divulgados no fim de setembro, o confinamento levou a aumentos das denúncias ou ligações para as autoridades por violência doméstica de 30% no Chipre, 33% em Singapura, 30% na França e 25% na Argentina.
Em julho, a ONU advertiu que seis meses de restrições sanitárias poderiam comportar 31 milhões de casos adicionais de violência sexista no mundo, sete milhões de gravidezes não desejadas, além de colocar em risco a luta contra a mutilação genital feminina e os casamentos forçados.
O Brasil, de acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), registrou 648 feminicídios no primeiro semestre de 2020, 1,9% a mais que no mesmo período de 2019. O governo criou uma campanha para estimular as mulheres agredidas a denunciar a violência, mas, segundo o FBSP, as medidas para acompanhar as vítimas continuam sendo "insuficientes". Em todo o mundo, apenas um em cada oito países adotou medidas para atenuar os efeitos da pandemia na vida de mulheres e crianças, afirma a ONU Mulheres.
Para Josana Lima, secretária Geral da Contraf-Brasil, “infelizmente ser mulher é estar em constante perigo. Dados mostram que uma mulher é agredida no Brasil a cada dois minutos. Todas nós conhecemos no mínimo 2 mulheres que sofreram ou sofrem agressão. No campo, na zona rural as possibilidades de denunciar são ainda mais difíceis tanto pela distância até o centro das cidades ou de um vizinho para pedir ajuda, quanto pelo preconceito, machismo, falta de empatia e respeito que está enraizado na nossa sociedade e que com isso responsabiliza a vítima e a ignora”.
A agricultora familiar, dirigente sindical da Fetraf-Minas e da CUT- MG Lucimar Martins, foi uma vítima de pedofilia e, de violência doméstica por 19 anos, pelo marido. Em setembro deste ano, ela decidiu dar um basta. A delegacia mais próxima fica a cerca de 27 km de sua residência, já a Delegacia especializada em atendimento às mulheres, há 60 km, em Manhuaçu.
Ela conta que o que a motivou a por um fim aos abusos foi a tentativa de dar visibilidade a essas mulheres que passa boa parte da vida sendo constantemente humilhadas, assim como tantas outras que perdem a vida.
“Nós temos vergonha de falar que estamos apanhando. Na zona rural é pior e se elas [as outras pessoas] vierem ou ouvirem elas não falam nada. Se tiverem que matar de tanto bater ninguém faz nada. As mulheres não denunciam pela vergonha e porque não tem pra onde ir”, relatou Lucimar.
E continuou, “na roça ainda tem muito isso de que casou é pra vida inteira. Muitas vezes os pais sabem que as filhas estão passando por isso, mas querem que mantenham o casamento a todo custo. Falta todo tipo de apoio, inclusive locais de acolhimento para que possam sair da violência e não retornarem para casa”, disse a dirigente.
De acordo com o Monitor da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher no Período de Isolamento Social, do Instituto de Segurança Pública (ISP), já são quase 120 mil casos de lesão corporal decorrente de agressão doméstica em 2020.
Para denunciar ligue 180, é gratuito e funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana e aceita ligação feita por celular ou telefone fixo. Além de atendimento confidencial, a central registra denúncias de violações dos direitos das mulheres, encaminha o conteúdo dos relatos aos órgãos competentes e monitora o andamento dos processos. Também tem a função de orientar mulheres em situação de violência e direcioná-las aos serviços especializados da rede de atendimento.