“A pastagem secou, a produção de leite caiu mais de 40%, a água está acabando, a água potável para consumo a gente busca em mais de dois quilômetros de distância da nossa propriedade. Temos alimentação pro gado pra mais uma semana, não plantamos ainda o milho para a silagem para a passagem do inverno e não sabemos o que fazer”, exclama Tânia Ivanir Schuler Conterno de Dionísio Cerqueira, Agricultora Familiar que produz leite na região do extremo-oeste catarinense.
O estado já soma mais de 60 dias sem chuva significativa e a seca tem afetado drasticamente as lavouras e produção de alimento em todo o estado e afetará o preço dos alimentos ao consumidor final. A falta de água gera reflexo na redução do ganho de peso do gado, na produção de leite e risco de morte aos animais, mas também a plantação de diversos cultivos.
“A gente nem sabe o que vai fazer com isso aqui que a gente tem, nossa fonte principal é o tabaco e desse jeito não vai ter como pagar todas as dívidas”, fala o Agricultor Familiar apontando para a plantação de fumo castigada pelo sol forte e falta de chuvas.
Gilson Lemos do município de José Boiteux, região do Vale de Santa Catarina é um dos milhares de Agricultores catarinenses que está somando os prejuízos e buscando alternativas para garantir renda para sua família.
O relatório da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina – Epagri que trata sobre os efeitos da estiagem nas cadeias produtivas de Santa Catarina já mostra o reflexo da seca nas lavouras, prejudicando o cultivo do trigo, do milho para silagem, milho para grãos, o fumo e pastagem do gado. De acordo com relatório, cerca de duas mil famílias estão recebendo água na propriedade para garantir a produção animal, que envolve o frango, suíno e leite.
ESTADO PRECISA AGIR – Cerca de 127 municípios já entraram com pedido de situação de emergência. Apesar da gravidade da situação, pouca ação prática vem sendo feita pelo Governo do Estado para ajudar os Agricultores e Agricultoras Familiares que enfrentam a segunda seca grave somente neste ano de 2020.
“Afetados pela crise econômica gerada pela pandemia e sem aprovação do Projeto de Lei 735, que previa linha de crédito especial aos Agricultores e Agricultoras Familiares nos moldes do Auxílio Emergencial, quem produz alimento em Santa Catarina está abandonado a própria sorte”, reflete Jandir Selzler, Coordenador da Federação da Agricultura Familiar de Santa Catarina – FETRAF-SC.
Na última sexta-feira (6/11) o presidente Jair Bolsonaro esteve em Santa Catarina, chegou a vir em Chapecó e visitar a cidade de Coronel Freitas. Apesar da realidade vivida pelos Agricultores e Agricultoras da região, nenhuma palavra foi dita pelo presidente da República, sobre medidas do Governo Federal para amenizar os impactos da estiagem que afeta a Agricultura Familiar.
FETRAF-SC ORGANIZA PRESSÃO EM BUSCA DE AUXÍLIO AOS AGRICULTORES E AGRICULTORAS – Na busca de atender as necessidades urgentes da Agricultura Familiar, a FETRAF-SC enviou um pedido de audiência com o Governo do Estado, apresentando algumas reivindicações e medidas para ajudar os Agricultores e Agricultoras Familiares que estão perdendo grande parte de seus rendimentos e sofrendo com a escassez de água.
Entre as reivindicações da Federação está a necessidade de Decreto de Emergência Estadual; buscar mais recursos estaduais para construção de poços artesianos; buscar políticas do Governo Federal de diminuição dos prejuízos e assistência aos Agricultores e Agricultoras; criar políticas de subsídios para compra de insumos.
Além destas ações a FETRAF-SC soma forças com as duas Federações do Rio Grande do Sul e do Paraná e a Confederação da Agricultura Familiar, a Contraf e chama uma reunião com o conjunto de entidades da Agricultura Familiar e as organizações que compõem a Via Campesina (MST, o MMC, MPA e o MAB).