Escrito por Coletivo de Comunicação do Encontro Unitário dos Povos
Foto: Ruy Sposati
“Deixa-me ser jovem, não me impeça de lutar, pois a vida me convida a uma missão realizar”. Com muita música e energia, a juventude dos movimentos do campo, sindical e estudantil se reuniu em uma plenária nesta segunda (20/8) para debater qual o papel da juventude na luta pela terra. Participaram da plenária jovens da FETRAF-BRASIL, Contag, Via Campesina, CPT, CONAQ, MTC, Movimento dos pescadores, e de associações estudantis.
Durante a plenária, recordou-se o protagonismo da juventude no primeiro Congresso Camponês, ocorrido há 51 anos atrás, no qual a maioria dos presentes, que decidiram por uma Reforma Agrária radical e irrestrita, era jovem. Nesse sentido, a juventude de hoje precisa se reconhecer como classe social e recuperar o protagonismo na luta pela terra, fazendo com que suas pautas se tornem bandeiras fixas na luta dos movimentos, e colocando sua criatividade para pensar em novas formas e linguagens de luta.
As dificuldades de permanência do jovem na terra foram tidas como um dos maiores problemas da juventude camponesa: mais de 830 mil jovens saíram do campo nos últimos anos, migrando para as cidades em busca de melhores opções. O latifúndio, com seu modelo concentrador de terras, aliado à lógica presente na sociedade de que as melhores oportunidades estão nas cidades e que o campo é um local atrasado, faz com que os jovens saiam do campo.
Além disso, não há políticas governamentais de incentivo para que o jovem fique no campo: o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA) não tem programas de distribuição e permanência na terra para os jovens, pois a prioridade para a entidade na hora de distribuir terras é de famílias já constituídas.
Outro fator que expulsa o jovem do campo são as grandes empresas, causando uma alienação do jovem ao campo. A filial da Vale do Rio Doce no Paraná, por exemplo, expulsa os jovens e suas famílias da terra e os manda para a cidade. Como compensação, a mineradora oferece cursos técnicos que preparam os jovens para trabalhar na própria Vale, o que enfraquece a agricultura na região.
A educação no campo é outro problema. Muitas das escolas de ensino fundamental nos assentamentos são fechadas, forçando os assentados a viajar longas distâncias para estudar na cidade; o mesmo ocorre com as universidades, distantes dos assentamentos e muitas vezes excludentes para a população de baixa renda. A falta de internet nas escolas do campo se configura como outro entrave ao desenvolvimento de uma educação no campo.
É preciso que se pense em uma educação voltada ao campo, com cursos diferenciados e críticos ao agronegócio. Essa luta se faz mais urgente após o lançamento do Prona Campo – programa do governo voltado para a formação técnica no campo, que vai ser ligado à CNA, entidade representativa do agronegócio.
Além da união entre a juventude do campo, é preciso que exista uma união entre o campo e a cidade, visto que o jovem da cidade sofre com condições de trabalho degradantes. A união também deve englobar o movimento estudantil, além de pensar nos problemas da universidade e da educação, não pode se fechar nos muros da universidade: ele deve estar presente nas ruas e no campo, aliado à luta do povo, se colocando como agente transformador na luta de classes.
Nesse sentido, a plenária propôs a criação de um Fórum Permanente da Juventude, que seja capaz de manter esta união do campo com a cidade para que se reflita o processo da luta de classes e como a juventude se insere nesse âmbito.