A agricultora familiar Kelly Ornelas e sua família são produtores de alimentos orgânicos. Ela conta que todos estão fazendo uma força tarefa para superar os gargalos na produção de alimentos e conseguir abastecer e atender os pedidos que chegam de cestas de alimentos.
Desde a logística, o crédito para financiamento, e as políticas que comercializam os produtos da agricultura familiar são essenciais para garantir a alimentação adequada à população, garante a agricultura. “O PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) ajudava bastante não apenas nós agricultores, mas também as pessoas terem acesso aos alimentos frescos, limpos de agrotóxicos. Isso é o que dá segurança alimentar a população”, diz Kelly Ornelas, que produz alimentos na região de São Sebastião, em Brasília.
A Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar no Brasil (Contraf Brasil), durante essa calamidade pública, tem realizado reuniões com lideranças, parlamentares e demais representantes de entidades que defendem o modelo de produção sustentável e a segurança alimentar para tentar discutir medidas que minimizem o impacto da calamidade pública no campo, sobretudo, para a agricultura familiar.
Primeiramente a questão é a saúde e bem-estar, e isso é válido para o espaço rural. Vale ressaltar que a agricultura familiar é a responsável por produzir os principais alimentos da cesta básica dos brasileiros, logo estamos dialogando com os governos para que não haja um processo de desaceleração da produção. E mais do que isso, que o governo crie mecanismos como programas de compras institucionais e facilitar o processo de comercialização entre agricultores familiares e grandes empresas para que os alimentos continuem chegando à mesa do povo brasileiro. A agricultura familiar continua prezando pela vida e não apenas no aspecto da saúde, mas da produção de alimentos saudáveis garantindo o direito à alimentação adequada e a segurança alimentar e nutricional de toda nação”, explica o coordenador geral da Contraf Brasil, Marcos Rochinski.
Com os cortes drásticos no orçamento público das políticas públicas que viabilizavam os programas de fortalecimento da produção e comercialização da agricultura familiar, o temor dos agricultores e agricultoras familiares é do superendividamento, já que muitas indústrias que recebiam a produção da agricultura familiar e espaços de comercialização como as feiras livres estão fechadas.
No Rio Grande do Norte e em Santa Catarina agricultores familiares pontuam sua preocupação e falam das dificuldades que se agravam com a situação do coronavírus.
Nesta terça-feira (24) mais de 80 entidades civis, incluindo a Contraf Brasil, de todas as regiões do país, publicaram um apelo para que o direito à saúde e à alimentação da população brasileira seja respeitado, protegido e garantido. (Recomendações)
Representando o coletivo de organizações e entidades que organiza a Conferência Nacional Popular Democrática de Soberania, Segurança Alimentar e Nutricional, Elisabetta Recine fala sobre o documento lançado pelas organizações, que trata de recomendações para garantir o direito à alimentação, a segurança alimentar e nutricional das populações.
Brasil já teve políticas de Segurança Alimentar
Algumas medidas ao longo dos últimos anos como a aprovação da Lei Orgânica, Política e do Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, o Plano Safra da Agricultura Familiar, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, o Programa de Aquisição de Alimentos e as compras institucionais de alimentos da agricultura familiar para escolas e outros órgãos públicos, são propostas que surgiram a partir do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) e se tornaram políticas públicas para a garantia de uma alimentação saudável para toda a população.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), uma alimentação saudável ajuda a proteger contra a má nutrição em todas as suas formas, bem como contra as doenças como diabetes, doenças cardiovasculares, AVC e câncer. Outra alerta da organização é que a alimentação não saudável e a falta de atividade física são os principais riscos globais para a saúde.
Na contramão, fator negativo no Brasil é que o modelo de produção adotado pelo governo dá prioridade orçamentária e política ao aumento da produção de alimentos processados da cadeia do agro, no lugar das frutas, vegetais e outras fibras alimentares que são indicadas para uma dieta saudável.