A notícia do falecimento do professor João Felício, um defensor da Agricultura Familiar e da luta Fetrafiana, também ex-presidente da CUT, da APEOESP e da Confederação Sindical Internacional (CSI) entristece a todos os trabalhadores e trabalhadoras que compartilham o sentimento de companheirismo e que estão na militância por um Brasil democrático.
Professor e militante combatente e com uma história construída ao lado da política sindical do Brasil, deixa o sonho de uma sociedade mais justa e com menos desigualdades.
Para a Contraf Brasil, Fetrafs e Sintrafs, a partida do fetrafiano João Felício é uma perda imensurável, pois ele sempre esteve na defesa da Agricultura Familiar e carregava a paixão pela causa da segurança alimentar, do fortalecimento de uma produção de alimentos mais saudáveis e sobretudo a valorização do meio rural.
Nós, da família Contraf Brasil, nos solidarizamos com a família desejando nossos votos de pesar, mas com o compromisso de que seu passamento não será apenas motivo de tristeza. Mais do que isso, servirá de exemplo, inspiração, para que as lutas dos seus sonhos nunca sejam encerradas, até que efetivamente tenhamos um modelo de desenvolvimento solidário, justo e sem desigualdades.
O coordenador geral da Contraf Brasil, Marcos Rochinski, destaca que João Felício é uma pessoa que representa muito para a Agricultura Familiar, especialmente, para a Contraf Brasil. “Ele esteve presente nos principais momentos de fundação das federações e sempre foi um incansável na defesa de que tivéssemos a nossa própria organização da Agricultura Familiar”, relembra Rochinski.
João Felício esteve na fundação da Fetraf Brasil, quando o evento foi embalado pelo resgate histórico do sindicalismo rural e com 1,2 mil delegados de todo país. Neste momento, João Felício disse que o sonho da CUT era reunir os agricultores, deu boas vinda a Central e marcou no seu discurso que a Fetraf faz parte da história da Central Única dos Trabalhadores.
Outro momento importante foi da sua presença no III Congresso da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf/CUT), em 2013, como secretário de Relações Internacionais da CUT. Ele pontuou “o momento é de radicalizar as ações sociais, de aprofundar a disputa ideológica no movimento sindical e na sociedade para barrar o retorno do neoliberalismo. As mobilizações de junho deram o recado: é hora de ampliar a pressão por mudanças para avançar com a nossa agenda, que é a da maioria da população”.
As palavras de João Felício foram de um defensor aguerrido e é com essa força que ele deixa um legado para a história da política sindical no país.
História de Luta
João Felício tinha 70 anos, ele foi um defensor da causa da Fetraf-Brasil e quando possível estava sempre presente, desde a fundação da organização, nas atividades que envolvia nossas federações. Ele também era ex-presidente da CUT, da APEOESP e da Confederação Sindical Internacional. O companheiro morreu na madrugada desta quinta-feira (19), em São Paulo. O velório ocorrerá a partir das 10h no cemitério do Araçá e seu sepultamento ocorre às 16h no mesmo local.
Formado em Desenho e Plástica, Educação Artística e História da Arte, pela Fundação Educacional de Bauru, Felício começou a lecionar como professor de Desenho em São Paulo, na rede oficial de Ensino Estadual, onde permaneceu até se aposentar.
Sua militância política e sindical iniciou ainda nos anos 1970, em 1977, participando das mobilizações dos professores, na luta por melhores condições de vida e salário, contra a ditadura militar e pela conquista da APEOESP.
Em 1980 foi eleito para o Conselho de Representantes da APEOESP, pela região norte da Capital. Participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, como delegado no Congresso de Fundação, no Colégio Sion na capital.
Em 1981 venceu a eleição para Diretoria da APEOESP, como diretor do Departamento Cultural. Neste período foi criada a Comissão de Mulheres e a de Combate ao Racismo da APEOESP, vinculadas a este departamento, e também a organização de atividades culturais entre professores e alunos, além da formulação da concepção de educação e escola pública da APEOESP.
Em 1983 participou do processo que resultou na fundação da CUT e da filiação da APEOESP à Central. Foi reeleito como diretor do Departamento Cultural.
Em 1984 participou da Campanha das Diretas-Já e da greve dos professores durante o Governo Montoro, quando a APEOESP chegou a realizar assembleias com mais de 50 mil professores. Em 1985 foi reeleito como diretor de sub-sedes da capital da APEOESP. Em 1987, eleito presidente da APEOESP e, neste ano, a entidade realizou duas greves, uma em cada semestre.
Participou da luta pôr uma nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB) da Educação Nacional e em 1989 foi reeleito presidente da APEOESP com mais de 80% dos votos. Neste ano ocorreu a mais longa greve da história dos professores do estado de São Paulo (82 dias), resultando numa conquista de 126% de reajuste.
Em 1990 a APEOESP lança a campanha “Educação no Centro das Atenções”. Ele é eleito a primeiro suplente do senador Eduardo Suplicy (PT – São Paulo) e membro do Diretório Estadual do Partido dos Trabalhadores. Em 1991 foi reeleito para o terceiro mandato como presidente da APEOESP. Em 1993 deixa a presidência da APEOESP e retorna à sala de aula, na escola estadual de primeiro e segundo graus Dr. Octávio Mendes, no bairro de Santana, na capital. Naquele ano a APEOESP atingiu 122 mil associados, dos quais 70 mil participaram do processo eleitoral, sendo a maior eleição na história da entidade, quando foi eleito a presidente professor Roberto Felício.
Em 1994 foi eleito para Direção Executiva Nacional da CUT, indicado pelos professores do Brasil. Neste mandato, foi responsável pela Comissão de Educação, Formação Profissional e da Previdência e membro do Coletivo Internacional da CUT, para questões relativas a OIT (Organização Internacional do Trabalho) e Direitos Humanos. Em 1997 foi eleito secretário Geral Nacional da CUT e membro do Diretório Nacional do PT. Em 2000 assumiu a presidência Nacional da CUT.
Em 2003 foi eleito Secretário Geral Nacional da CUT e Secretário Sindical Nacional do PT. Foi membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social indicado pelo presidente Luís Inácio Lula da Silva. Indicado pela CUT como representante da Central, no Conselho de Administração do BNDES. Fez parte ainda, da Direção do Instituto de Cidadania.
Em 2005, retorna à presidência da CUT Nacional, após a saída do Luiz Marinho que assumiu o Ministério do Trabalho. Em 2006 foi eleito pelo 9º CONCUT como secretário de Relações Internacionais da CUT Nacional. Em 2009 reeleito secretário de Relações Internacionais, mandato renovado em 2012 no 11º CONCUT.
Em 2014 foi eleito presidente da Confederação Sindical Internacional (CSI). Felício foi o primeiro latino-americano a presidir essa, importante, Central Internacional.