A agricultura orgânica e a agroecologia são sim capazes de produzir alimentos em grande escala no Brasil e no mundo. Na verdade, elas são as formas mais seguras e sustentáveis de produzir comida saudável no longo prazo. É o que mostram os dados, pesquisas, vídeos e depoimentos apresentados durante seminário “A Importância de uma Política Nacional de Redução de Agrotóxicos para o Brasil (PNaRA)”, nesta terça-feira (6), em Brasília.
O seminário, realizado na Câmara dos Deputados, contou com a participação de especialistas e representantes de entidades públicas e de governo que atuam em defesa da segurança alimentar e nutricional. O objetivo principal era avaliar os resultados de vários debates ocorridos em 2018 sobre a necessidade de reduzir o uso de agrotóxicos no país.
Os debates têm sido promovidos com o apoio de várias instituições, como forma de subsidiar a comissão especial que analisa o Projeto de Lei Nº 6670 de 2016, que institui a PNaRA. Durante o seminário, também foram apresentadas as principais propostas do relatório final do PL 6670, que deverá ser apresentado, e talvez votado, na próxima terça-feira (13).
Derrubando preconceitos
Para Marcos Rochinski, representante do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) que participou do encontro, “o antigo conceito de que a agricultura precisa de defensivos agrícolas, fertilizantes e de sementes transgênicas para produzir comida em quantidades para alimentar toda a população tem sido claramente desmascarado, tanto pelas audiências públicas da comissão ao longo do ano quanto nas experiências relatadas neste seminário”. Rochinski é coordenador-geral da Confederação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Contraf).
Segundo ele, outra falácia a ser desmistificada é a de que a agricultura orgânica e agroecológica é sempre mais cara que a agricultura tradicional, tanto na produção quanto no consumo. “É possível produzir alimento saudável em grande quantidade sem agrotóxicos. É possível produzir alimento mais barato sem transgenia e outras tecnologias semelhantes. É possível conviver de forma harmoniosa com a natureza, produzindo alimento e convivendo com a preservação do meio ambiente”, reafirma o conselheiro.
Redução de custos
Um vídeo apresentado durante o seminário comprova as afirmações de Rochinski. São depoimentos de produtores de fazendas de grande porte, situadas no Centro-Oeste brasileiro, que migraram da agricultura convencional para a agricultura orgânica e agroecológica. Essas propriedades, antes degradadas, estão produzindo grandes safras de alimentos com custo mais baixos, uma vez que os proprietários deixaram de ter de comprar e de transportar agrotóxicos e fertilizantes.
“A agricultura convencional é baseada em produtos. Eles nos mostram uma prateleira com algumas opções que supostamente te oferecem uma comodidade. Mas, no final, é uma escravidão”, relata Rogério Vian, da Fazenda Sélia, de Goiás. Para ele, a primeira coisa a fazer é mudar a cabeça do produtor. “É cultura, é uma barreira cultural mesmo, do modelo que existe. É querer que as coisas mudem e fazer a ação, porque só querer e não agir, não resolve”. Luísa Queiroz, da Fazenda Estrela Dalva Lamarão, de Minas Gerais, acrescenta que a agricultura à base de produtos químicos é um sistema de produção altamente pressionado pelos custos. “Você resolve um problema naquela hora e cria outros dez. Aumenta o número de pragas e doenças”, concorda também Eduardo Antoniolli, da Fazenda Invernadinha, situada em Goiás.
“Dia após dia as grandes empresas nos dizem que precisamos fazer mais pulverizações. Em vez de duas, você precisa de quatro, ou seis, ou oito”, conta a produtora Vânia Antoniolli, também da fazenda Invernadinha. Na verdade, ressalta ela, “a gente precisa plantar árvores. Porque senão, a primeira consequência é a falta de água. Não podemos produzir grãos em larga escala, igual a gente trabalha, sem cuidar da natureza. Nós não estamos separados da natureza. É hora de acordar”, alerta.
Esses produtores participam do experimento Grupo de Agricultura Sustentável, iniciado em 2017, pelo pesquisador e agricultor Ernst Gösh. “Milhões de hectares foram desflorestados no Brasil nos últimos 50 anos. Vamos plantar as árvores de novo, mas de uma forma que elas possam ser nossas aliadas na produção de grãos”, diz ele. “A gente tem que usar a nossa tecnologia em favor da natureza e não contra ela. É uma reconciliação entre o homem e a natureza”.