O momento é de radicalizar as ações sociais, de aprofundar a disputa ideológica e avançar

14/08/2013 - 20:42

Afirmou João Felício, secretário de Relações Internacionais da CUT, no Congresso da Agricultura Familiar

“O momento é de radicalizar as ações sociais, de aprofundar a disputa ideológica no movimento sindical e na sociedade para barrar o retorno do neoliberalismo. As mobilizações de junho deram o recado: é hora de ampliar a pressão por mudanças para avançar com a nossa agenda, que é a da maioria da população”, afirmou o secretário de Relações Internacionais da CUT, João Antonio Felício, no III Congresso da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf/CUT).

Debatedor no painel Conjuntura Política Nacional e Internacional, ao lado do professor  e pesquisador do IPEA Guilherme Delgado, o dirigente cutista frisou que é preciso fortalecer a presença do Estado na economia, com cada vez mais protagonismo, no “campo brasileiro”. Segundo João Felício, isso significa fortalecer a agricultura familiar contra o agronegócio e investir na reforma agrária “que muito pouco tem avançado, enquanto tem muita terra produtiva para especulação”, significa ampliar os investimentos e o crédito agrícola.

Alertando para a gravidade do leilão do campo de Libra, no pré-sal, marcado pelo governo para o mês de outubro, João Felício afirmou ser “contra qualquer processo de privatização, principalmente de extração de petróleo para ser explorado por multinacionais”. “A Petrobrás tem condições de prospectar sem privatizar”, frisou.

“Os nossos neoliberais sempre se espelharam nas reformas que estão ocorrendo lá fora e tentam impor sua agenda aqui. O melhor exemplo agora é este Projeto de Lei 4330, de terceirização e precarização, que está sendo defendido no Congresso pela representação empresarial e por latifundiários da pior espécie. É uma postura de classe, do capital contra o trabalho”, condenou.

 

João Felício denunciou a ação daninha dos grandes conglomerados privados de comunicação e exortou os cerca de 800 delegados e delegadas de 18 Estados presentes a se somarem à campanha pela “liberdade de expressão”, comandada pelo Fórum Nacional pela Democratização da Comunicação (FNDC). “Não dá para continuarmos tendo uma imprensa de classe, que estipula quem é aliado e quem é adversário. Os patrões é quem mandam na imprensa, no Estado, no Globo, na Veja, na Folha, e isso não pode ser assim. Ninguém defende censura, o que queremos é garantir o direito de todos”, assinalou.

 

AGRONEGÓCIO: ACUMULAÇÃO A QUALQUER PREÇO

 

Concentrando sua análise no campo brasileiro, o professor Guilherme Delgado lembrou que há uma luta aberta entre o conceito de desenvolvimento rural sustentável, que valoriza a agricultura, a cultura e a sociabilidade e o agronegócio, “que quer a acumulação do capital a qualquer preço”. Delgado também denunciou o papel da mídia privada que, invisibilizando e criminalizando a luta e os lutadores pela terra, “quer congelar nossas expectativas de futuro no passado”.

“É preciso estabelecer limites e regras ao processo hegemônico do agronegócio. Um limite social, ambiental e trabalhista, que vem sendo solenemente ignorado pelos três poderes”, defendeu o professor.

A presidenta da Fetraf/CUT, Elisângela Araújo, destacou que 2014, como Ano Internacional da Agricultura Familiar, estimulará um amplo processo de debate sobre os avanços obtidos com as políticas públicas como as estruturadas pelo Pronaf (Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar), PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), que garante a aquisição de 30% de produtos dos agricultores familiares.

 

CONTRA A ESTRANGEIRIZAÇÃO

 

“Mas, além de debatermos propostas para avançar, precisamos nos posicionar claramente contra a estrangeirização das terras. O Oeste baiano é um dos exemplos, onde os chineses compram terras para produção de grãos para exportação com venenos da pior espécie, com o uso de agrotóxicos que são vetados na Europa e nos Estados Unidos”, alertou a dirigente.

 

Elisângela também lembrou que, para além das declarações de intenção, o governo federal deveria aumentar os investimentos na reforma agrária, “que tem seu único instrumento cada vez mais sucateado”. “Temos dois anos de pauta travada no governo, que não é só a reforma agrária. A presidenta Dilma não tratou como deveria, não enfrentou o agronegócio. Daí o desafio grandioso de aumentarmos a nossa unidade em defesa do nosso projeto de sociedade, da mobilização por um modelo de desenvolvimento onde o campo tenha gente e trabalho de qualidade”, concluiu.