O Brasil carrega no campo a marca de sangue na terra e nas cercas. Essa realidade caminha de mãos dadas com a injustiça e a impunidade. O registro de conflito no campo foi assustador em 2016 com 61 assassinatos, que apesar dos dados revelarem uma verdadeira barbaridade, o país, ainda, parece andar de olhos vendados as estas estatísticas.
Segundo dados do relatório de Conflitos no Campo de 2016 da Comissão Pastoral da Terra as vítimas, invisíveis à sociedade, ainda sofrem com uma justiça lenta e omissa. Entre 1985 e 2016 foram 1834 assassinatos no campo e apenas 112 casos foram julgados. Ainda, destes casos 31 acusados de mandantes foram condenados e 14 absolvidos.
O atual modelo de governo já deixa marcas em 2017, com 3 chacinas no campo num intervalo de 15 dias. Os conflitos de Colniza em Mato Grosso com 9 vítimas; Vilhena em Rondônia com 3 vítimas e Santa Maria das Barreiras no Pará com 4 vítimas. Ao todo, de janeiro a maio de 2017 já são 26 assassinatos envolvendo a luta pela terra.
Nesta terça-feira, 23 de maio, os povos do campo, da floresta e das águas, durante o Ato de Denúncia por direitos e contra a violência no campo pediram socorro as autoridades presentes. “Estamos aqui pedindo que vocês possam ter um olhar mais sensível os problemas do campo. Quando eu chego aqui e digo que sou uma mulher negra quilombola muita gente acha bonito, mas quando reivindico o meu direito ao território eu passo a incomodar. Sou caçada por pistoleiros, ameaçada de perder minha cabeça, porque é isso que escutamos. Não é apenas estas lideranças que são ameaçados. Além disso, os programas de proteção protegem cada vez menos e as vezes temos que fugir porque nos sentimos mais ameaçados. A violência se traduz na negação dos títulos dos nossos territórios, resolver isso seria uma forma de amenizar estes conflitos”, contou Fátima Barros, do Quilombo Ilha de São Vicente (Tocantins).
Os depoimentos das testemunhas no ato afirmam que a atual conjuntura política do país tende a aumentar os conflitos, com as propostas de projetos de lei, medidas provisórias, emendas constitucionais que tramitam no Congresso Nacional como: a MP 759 – que autoriza grilagem de terras e acaba com a lei da reforma agrária; PEC 287 da reforma previdência e PL 6422/2016 – Regula normas do trabalho rural e PLS 432/2013 – que altera o conceito de trabalho escravo; PL 3.729/2004 - que enfraquece do licenciamento ambiental; PEC 215/2000 anula os direitos indígenas e de seus territórios; PL 2289/2007 – PL 4059/2012 - que autoriza a venda de terras para estrangeiros; PL 6299/2002 – PL do Veneno e PL 34/2015 – Rotulagem de Transgênicos - que se traduz na liberação de agrotóxicos; entre outras.
"Os problemas que enfrentamos são justamente pela falta de políticas públicas que enxerguem as diversas populações. Eu sou do movimento social, mas antes de tudo sou da agricultura familiar. Na minha região, da Bahia, convivemos com o problema da violência no campo, na luta pela terra e água. O relatório nos mostra que foram 164 casos de conflitos em 2016. Não podemos olhar para estes números e ficar parados diante dessa barbaridade", avalia Elisângela Araújo, coordenadora de formação e educação profissional da CONTRAF BRASIL e diretora executiva da CUT Nacional.
Os organizadores do Ato de Denúncia por direitos e contra a violência no campo ao final do evento apresentaram uma carta de compromisso contra a violência no campo - Acesse AQUI.
Veja algumas fotos do Ato: