30 países reuniram-se para debater a relação do movimento sindical e o governo Lula, e a necessidade de impedir o retrocesso nas próximas eleições presidenciais
Representantes de centrais sindicais de 30 países acompanharam uma narrativa do presidente da CUT, Artur Henrique, e do secretário geral, Quintino Severo, sobre como a Central e os movimentos sindicais têm se relacionado com o governo Lula e de que forma puderam influenciar algumas decisões e projetos. No retrospecto apresentado por Artur, um dos destaques foi o fato de o atual governo ter mantido diálogo quase permanente com os movimentos sociais, o que não acontecia nos anteriores. "Ainda falta muito. Estamos insistindo para que o governo nos ouça antes de decidir sobre investimentos ou subsídios em empreendimentos públicos ou privados, para estabelecer contrapartidas sociais como manutenção e geração de empregos com carteira assinada, especialmente", disse Artur.
Perguntado sobre as eleições 2010, Artur disse que a direita quer impedir a continuidade de um governo democrático e popular e os avanços conquistados. "O projeto da direita, representado neste momento pelo ex-governador e pré-candidato à Presidência José Serra, é a privatização e a diminuição do Estado. Nós lutamos por um Estado regulador e indutor do desenvolvimento, algo que foi fundamental para o Brasil superar a crise econômica mundial do ano passado".
No debate, a CUT também destacou os enormes desafios que ainda existem para o Brasil alcançar o conceito de emprego decente para todos. Um dos temas, a terceirização, foi apresentado por Denise Motta Dau, secretária nacional de Relações do Trabalho. "Construímos um projeto de lei, depois de muito debate com todos os setores econômicos onde temos representação, que tem como principal objetivo garantir aos terceirizados os mesmos direitos que os trabalhadores contratados diretamente", explicou.
Reforma agrária
Elisângela Araújo, da Executiva Nacional da CUT, discorreu sobre a reforma agrária no Brasil. Divulgou diversos números da recente pesquisa do IBGE sobre agricultura familiar que confirmam a importância da mudança da estrutura agrária no País. "Mais de 84% das propriedades rurais no Brasil são estabelecimentos familiares. No entanto, essas terras representam apenas 24% de todas as áreas cultiváveis no Brasil, o que demonstra a desigualdade na distribuição de terras", disse Elisângela. Mas, segundo os dados que apresentou, as propriedades familiares, ainda que cubram a minoria do território, abastecem a mesa dos brasileiros com quase 80% de todos os alimentos produzidos. "Grande parte desses resultados se deve a políticas implementadas pelo atual governo em função da pressão do movimento sindical e dos movimentos organizados do campo. "O Pronaf é um exemplo: de R$ 2 bilhões em 2003, chegamos ao patamar de R$ 16 bilhões no ano passado", disse a dirigente, em referência ao Programa Nacional de Financiamento da Agricultura Familiar.
A mesa foi coordenada por Rosane Bertotti, secretária nacional de Comunicação da CUT. Também participou do debate, Joaquim Pinheiro, da Direção Nacional do MST e da Via Campesina Internacional, que fez um retrospecto sobre a luta agrária no Brasil.
Jasseir Alves Fernandes, também agricultor e dirigente da Executiva Nacional da CUT, destacou a atuação dos sindicatos dos rurais filiados à CUT na tarefa de realizar ocupações e potencializar o financiamento da assistência técnica e infraestrutura, e também no combate à precarização das relações de trabalho. "Um dos nossos maiores desafios continua sendo a guerra contra a criminalização do movimento da reforma agrária", sublinhou.