Engenheiro agrônomo, economista, professor e escritor, José Graziano da Silva, já ocupou o cargo de diretor regional das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), foi ministro da Segurança Alimentar e do Combate à Fome entre 2003 e 2004, no primeiro mandato do governo Luiz Inácio Lula da Silva, e coordenou a elaboração do programa Fome Zero. Graziano, ganhou a eleição para diretor Geral com 92 votos contra 88 do ex-chanceler espanhol Miguel Angel Moratinos. Ele será o primeiro latino-americano que assumirá o cargo desde a fundação da entidade, em 1945.
Em documento de candidatura ao cargo Graziano, elencou em cinco pontos estruturais as tarefas da FAO, que são: erradicação da fome; produção e consumo sustentável de alimentos ? uma vez que a FAO tem papel fundamental no trabalho pela garantia de alimentação e segurança alimentar de forma sustentável ? gerenciamento de sistemas alimentares, no sentido de que seja criado um marco regulatório para proteger produtores e consumidores garantindo maior equilíbrio nas relações bem como estabelecer um sistema de governança global capaz de reduzir impactos que possam comprometer a produção de alimentos e o abastecimento das populações.
Como quarto quesito, encontra-se a necessidade de consolidar um processo de reforma da FAO, que consiste em descentralizar ações, promover maior transparência e compromisso com os princípios da organização; assim como estabelecer processo cada vez mais participativo das organizações da sociedade civil no debate. Como último ponto, Graziano citou a necessidade de expandir as parceiras e cooperações.
Elisângela Araújo, coordenadora Geral da FETRAF-BRASIL, considerou a vitória de Graziano, como uma revolução.
?Se de fato houver avanço e efetivação desses cinco pilares que Gaziano, levantou em seu discurso de campanha, haverá uma nova perspectiva com relação à FAO e será uma organização muito mais comprometida e capaz de combater os desafios que temos pela frente?, disse a coordenadora que, nos dois dias que antecederam a eleição, participou do Seminário Cooperação Técnica Brasileira: Agricultura, Segurança Alimentar e Políticas Sociais.
Na ocasião, o Brasil apresentou o programa Brasil Sem Miséria, que pretende tirar 16 bilhões de pessoas da situação de extrema pobreza, a experiência com o Fome Zero e, as iniciativas de ajuda aos países da África.
?As experiências do Brasil se destacam como exemplos que podem servir de modelo para outros países e a nossa participação enquanto movimento ativo no processo de formulação das políticas públicas é determinante para sucesso dessas políticas?, expôs Elisângela em discurso durante o seminário.
Para ela, o sucesso nos programas de erradicação da pobreza e garantia de alimentação aos povos depende da participação da sociedade civil e, de um conjunto de políticas públicas que garantam o fortalecimento da agricultura familiar e meios eficazes de sobrevivência no campo.
?Embora tenhamos tido inúmeros avanços nos últimos anos, o Brasil precisa investir e descentralizar políticas públicas para focar na agricultura familiar e vencer os desafios que se apresentam no que se refere à habitação, assistência técnica, tecnologia e pesquisa científica. O mundo precisa discutir a criação de mecanismos eficazes de garantir renda e potencializar a nossa juventude rural para garantir a sucessão nas propriedades da agricultura familiar. Esses são os nossos grandes desafios?, considerou a coordenadora.
Vale lembrar que a cooperação técnica brasileira é uma resposta aos países em desenvolvimento que tem o Brasil como referência nas políticas e práticas. Ela reúne projetos em 81 países ? sendo que 45% se concentram na América Latina e no Caribe e 55% na África, Ásia e Oceania, além de uma cooperação técnica trilateral com o Japão, a Alemanha, os Estados Unidos, a Itália, a França, a Austrália, o Reino Unido e a Espanha, recentemente, o Brasil, assinou memorando de entendimento sobre cooperação técnica trilateral com Israel e Egito.
Na cooperação Sul-Sul, são desenvolvidas parcerias nas áreas de pesquisas e cooperação social e envolvem países das Américas do Sul e Central, além da África, da Ásia e do Oriente Médio.