Em entrevista à Agência de Notícias Internacional Efe, publicada nesta quarta-feira, o diretor-geral da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação), José Graziano da Silva, falou sobre os desafios da Conferência Rio+20, que será realizada em junho, no Rio de Janeiro. "A cúpula da Rio+20 será a última oportunidade para solucionar o problema do impacto da mudança climática sobre o sistema alimentício e sem segurança alimentar não haverá paz", disse ele, para quem a visão de desenvolvimento sustentável não pode ser alcançada sem que a fome - que afeta mais de 900 milhões de pessoas no mundo - seja erradicada plenamente.
Para ele, o evento terá dificuldades para alcançar um acordo vinculativo. O diretor se refere ao debate sobre os gases que provocam o efeito estufa, explicando que os países em vias de desenvolvimento não querem assumir o custo adicional que supõe esse controle, já que se sentem discriminados pelos países industrializados - os principais poluidores. "É o sonho de todos conseguir um mundo mais limpo, mais verde e sustentável, mas é preciso que os países assumam os custos para a preservação do meio ambiente", declarou Graziano.
De acordo com as indicações do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Pnuma), limpar o meio ambiente custa entre US$ 100 bilhões e 300 bilhões, enquanto uma agricultura sustentável pode precisar de até US$ 3 trilhões, que "são números enormes", segundo o diretor-geral da FAO. "Os países em desenvolvimento não querem pagar esse preço", resumiu Graziano, que admite que o problema sempre gira em torno do fato de que os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos não querem assumir a responsabilidade pelo pagamento dessa conta. "Eu acho que a Rio+20 representa uma grande oportunidade diante dessas dificuldades. Agora, nós temos que perceber a urgência do tema, sendo que isso só é observado por uma via: a do impacto da mudança climática", acrescentou. "Essa mudança pode ser sentida a cada dia, com inundações, secas, terremotos e outros eventos extremos que se repetem".
A produção de alimentos também é afetada diretamente pela mudança climática, já que muitos países se transformaram em recorrentes importadores, devido às secas ou chuvas e também não conseguem produzir mais do que necessitam. "Essa confluência da sustentabilidade, com a da mudança climática e a produção de alimentos, faz com que a Rio+20 seja a última oportunidade para tomar medidas de um problema que não é se encontra no futuro, mas no presente", ressaltou. "É um problema que afeta a todos e que se trata de uma ação preventiva sobre o impacto da mudança climática na segurança alimentar. Sem ela, não haverá paz", completou Graziano, que defende que "a agricultura não é só parte do problema, mas também da solução".
A produção de alimentos de maneira sustentável é um dos principais avanços neste sentido, "pois não podemos usar 15 mil litros de água para produzir um quilo de filé, nem 8 bilhões de pessoas podem comer filé diariamente". Desta forma, Graziano aposta na educação alimentícia. O objetivo, segundo o diretor, é aplicar com urgência as diretrizes voluntárias para a sustentabilidade. Estas diretrizes, que acabam de ser aprovadas no Comitê de Segurança Alimentaria Mundial (CSAM), promovem o fim da pesca indiscriminada, a poda de árvores e apostam em medidas como o bom uso da água em sistemas de irrigação, com fórmulas como o gotejamento, cuja eficácia foi demonstrada pelos israelenses.
O diretor-geral da FAO destacou que 35% de toda a produção alimentícia mundial - a quantidade que é desperdiçada anualmente - vai para lixo, mas poderia alimentar toda a faixa subsaariana. "A comida é desperdiçada no consumo, no transporte, na armazenagem, no manejo inadequado e até na educação alimentícia", finalizou Graziano.
*Fonte Agência de Notícias Efe