Escrito por Fernanda Silva, de Brasília
Tatiane
Daniele
Foto: Ruy Sposati
No Parque da Cidade, na tarde desta segunda-feira (20), os cinco mil trabalhadores e o povo do campo, das águas e das florestas participaram da apresentação do documento de propostas para um desenvolvimento em contraponto ao agronegócio.
Com o objetivo de criar uma identidade conjunta, mas que contemple a realidade dos povos, e respeite a diversidade das categorias, o documento é capaz de fazer os povos se reconhecerem ao propor, de maneira geral, a efetivação da reforma agrária, acesso à terra, fortalecimento da agricultura familiar, fomento à produção agroecológica e orgânica.
Construído a partir do diálogo com os movimentos sociais, a ideia é que o novo modelo de desenvolvimento, o qual as entidades ao longo do tempo têm lutado pela implementação e disputado com a sociedade movida pela lógica do capital, seja colocado em prática. “Nós temos que ter um programa de classe, temos que nos unir. 80% do nosso território é usado pelo agronegócio. Temos que nos juntar para vencer”, disse João Pedro Stedile, da direção Nacional do MST.
A luta dos movimentos é pela efetivação da educação específica para os moradores do campo, com princípios que valorizem a cultura local, com a implantação de uma política que reconheça a cultura como parte das comunidades tradicionais e; que respeite as diversidades.
Como exemplo, Ditão Alves, da Coordenação Nacional de Articulação de Comunidade Negras Rurais Quilombolas (CONAQ BRASIL) citou que é preciso respeitar e valorizar as culturas quilombolas, que estão em risco devido a atual política brasileira.
Ao citar o agronegócio como agente devastador do meio ambiente e “que vê como empecilho as comunidades do campo para o desenvolvimento”, Elisângela Araújo, coordenadora Geral da FETRAF-BRASIL reafirmou que não é esse modelo que os movimentos defendem.
“A nossa luta passa pelo desenvolvimento do território com sustentabilidade e soberania alimentar. Isso se faz com ampla reforma agrária, que gera distribuição de renda e produção de alimentos saudáveis”, disse.
Na ocasião, a coordenadora também pontuou o fortalecimento das associações e cooperativas, a reestruturação das políticas de crédito como pontos estruturantes para um novo padrão de sociedade. Para ela, o país precisa inserir a agricultura familiar e camponesa como fator estratégico para o desenvolvimento socioeconômico.
51 anos de luta
O Encontro Unitário dos povos acontece 51 anos após o primeiro congresso nacional camponês que ocorreu em Belo Horizonte (MG). Na época o país era comandado por João Goulart. O centro do debate era o fim da divisão de produção com os latifundiários e o acesso à previdência.
Wilian Clemente, da Contag, ao falar do marco histórico, frisou que esse Encontro reinaugura uma nova fase da luta camponesa. Ao fazer críticas ao governo Dilma, “que tem feito uma preferência clara pelo agronegócio”, ressaltou para a plenária que o governo deveria, ao invés de criar mais um pacote para indústria, implantar um programa de aceleração da reforma agrária.
Durante o Encontro, as lideranças citaram os companheiros que tombaram durante a luta. Segundo publicação anual Conflitos no Campo Brasil 2011, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram registrados assassinatos de 29 trabalhadores rurais em 2011.
Embora o número seja menor que no ano anterior, quando foram assassinados 34 trabalhadores, houve aumento no número de trabalhadores e trabalhadoras ameaçadas de morte, de 177,6%.
Para a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIBI) “o modelo de desenvolvimento que ceifa vidas e coloca na cadeira lideranças que lutam pela terra, não pode ser chamado de desenvolvimento”, concluiu Lindomar Terena, liderança.