A experiência de Marinalva Ferreira Soares, 49 anos, é inspiradora. A agricultora mora com o esposo, Jesualdo Ferreira Primo, há cerca de 30 anos, na comunidade Maravilha município de Remanso, Território do Sertão do Francisco. Marinalva conta que trabalhou a vida toda na roça e, desde sempre, ela guarda sementes de todos os tipos, mesmo em períodos de longa estiagem. Quando acha uma semente que é nativa do semiárido, faz de tudo para preservar. Para ela, guardar sementes é ter sempre o que plantar na hora que a chuva chegar. A agricultora explica que guarda as sementes porque é de onde tira o sustento da família.
A rotina diária do casal começa com as criações. Cuidam das galinhas e das ovelhas, antes de ir para o roçado. No período da chuva isso muda, porque é preciso aproveitar a terra ainda molhada para semear logo as sementes que foram guardadas.
Na propriedade, trabalham apenas os dois. Por isso, precisam dividir bem as tarefas. No inverno, o trabalho é plantar, limpar, colher e fazer ração para os animais com as plantas forrageiras. No período da estiagem, cuidar dos animais, fazer cerca, preparar a terra para plantar no inverno e cuidar o tempo todo da horta compõem o dia a dia da família. Jesualdo diz que antigamente faziam queimadas, mas começaram a perceber que a terra ia ficando mais fraca.
Quando isso acontecia, iam para outra roça derrubar a mata e estragavam tudo novamente. Hoje, fazem diferente. Utilizam apenas adubos orgânicos e, para evitar os insetos e doenças nas plantas, utilizam produtos e receitas naturais. Sabem que, se usarem agrotóxicos na plantação, irão ingerir o veneno junto com o alimento.
Eles explicam que na hora de plantar, fazem umas carreiras das sementes que são do mesmo tipo. Numa mesma área, fazem uma carreira de milho, uma carreira de feijão, de andu, de mandioca, de melancia, de abóbora. Como o período de chuva está vindo fraco, eles tem plantado as carreirinhas diversificadas para sempre conseguir colher alguma coisa. Plantam de três a cinco culturas juntas na mesma roça. A variedade garante a colheita e evita que os insetos comam toda a plantação. Para Marinalva, o lavrador tem que ser persistente, não pode desanimar. “Se esse ano não deu, no outro vai dar. Se o milho morre, o feijão dá e, assim, sempre tem o que comer”, afirma.
No quintal, cultivam uma horta onde plantam verduras e hortaliças, como coentro, cebolinha, alface e couve, ervas medicinais e plantas forrageiras. Na área do roçado é que plantam o milho, o feijão, o andu, a mandioca, a palma, a abobora, a melancia e o sorgo. Na área do mato, preservam a caatinga nativa, que ajuda na alimentação dos animais. O sustento da família sai da roça e da criação animal, sendo que um sistema também complementa o outro. Da plantação, o casal alimenta os animais e, dos animais, se aproveita o esterco.
Seu Jesualdo lembra que, antigamente, guardavam as sementes em cabaças, latas ou em litros de vidro e fechavam com cera de abelha. O milho era guardado no paiol e ficava de um ano para o outro. Agora, diz que está mais fácil armazenar as sementes porque aproveitam para reutilizar as garrafas plásticas que já vem com tampa. “O milho bem sequinho dura três anos. Antes de guardar, a gente seleciona o milho, escolhendo as primeiras espigas. O feijão é o das primeiras vagens”, conta Jesualdo.
Para Marinalva e Jesualdo, o mais importante de guardar e cuidar das sementes é poder preservar o que é nativo da caatinga. “Cuidar das sementes é preservar o que é do nosso lugar”, ensina Marinalva. A agricultora reforça ainda a importância de participar de reuniões e encontros de formação. Diz que, quando volta das reuniões, aplica tudo o que aprendeu na propriedade com mais animação.
Fonte: ASA - Por Comunicação Sasop