Na manhã desta sexta-feira (14), a Contraf-Brasil realizou mais uma rodada do Ciclo de Debates, uma etapa preparatória para construção do V Congresso Nacional dos Agricultores e Agricultoras Familiares do Brasil. Desta vez, o encontro virtual reuniu mulheres e homens de diversas idades para discutir importantes pautas da juventude camponesa.
O coordenador da Secretaria de Juventude da Contraf-Brasil, Auri Alves Junior iniciou o debate com saudações aos participantes e relembrou que no atual cenário de retirada de direitos e com a extrema crise econômica e sanitária que o país enfrenta, a luta por vacina também deve ser uma das bandeiras de luta dos jovens agricultores. “Estamos vivenciando um triste período na história da humanidade e, mas mais que nunca, este deve ser um momento de reflexão. O nosso papel enquanto jovens agricultores e agricultoras é intensificar a peleja por melhores condições de vida e por vacina para nossa categoria e para toda população”, ressaltou o dirigente.
A antropóloga e professora da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), Elisa Guaraná contribuiu com o debate e afirmou em seu discurso que o processo de construção e consolidação da identidade da juventude, em especial da juventude rural, saltou nos últimos 20 anos. Porém, apesar dos avanços, assim como acontece com outras categorias, este segmento também está no centro da atual disputa política e capitalista. Isso porque a juventude é uma fatia estratégica da sociedade capaz de se estabelecer como importante agente transformador. De acordo com Elisa, atualmente a juventude representa 7% da população brasileira, por esse motivo, é urgente e fundamental a unificação e organização sindical para garantir avanços nas políticas públicas específicas.
“A juventude brasileira deixou um grande legado na luta por direitos nos governos anteriores, no meio rural, por exemplo, houve avanços significativos na educação do campo e no acesso à universidade. Muitas das conquistas foram alcançadas graças ao reconhecimento e entendimento da diversidade deste público. Mas ainda há muito a ser feito e a juventude rural tem papel fundamental nos enfrentamentos atuais. Presenciamos o esfacelamento de importantes direitos conquistados e em meio ao aprofundamento das consequências do golpe de Estado, devemos fortalecer ainda mais a luta. Um dos grandes desafios é pensar um novo modelo de desenvolvimento que integre o campo e a cidade, além de apontar caminhos rumo à consolidação da Reforma Agrária, da agroecologia, da qualidade de vida, da educação, da renda e da igualdade e condições e de direitos”, explicou.
A presidenta do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Candói e secretária de Juventude da Fetraf-Paraná e da CUT Paraná Josenilda da Cruz Ferreira relembrou que sua trajetória no movimento sindical é fruto do processo de construção e formação do sistema Contrafiano. “As atividades realizadas no passado oportunizaram o meu reconhecimento como jovem agricultora e a importância da participação ativa na luta coletiva por políticas públicas. Com isso, adquiri consciência política e despertei em mim os sonhos e a vontade de buscar conhecimento e melhorias para minha comunidade e para toda sociedade de modo geral. Quando sonhamos nós realizamos e é isso que a juventude deve fazer. Nós precisamos nos unir para alcançarmos nossos objetivos, discutir o presente e ir à luta para quebrar os paradigmas, conquistar direitos e conquistar condições dignas para continuarmos no campo e sermos protagonistas da nossa história”, afirmou.
Prova do protagonismo da juventude camponesa, com apenas 19 anos de idade, o jovem agricultor Sandro Vitor assumiu a vice-presidência do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Novo Repartimento, no estado do Pará. Ele conta que assim como muitos outros jovens, seu engajamento no movimento sindical iniciou com um curso de formação. Para ele, a formação para os jovens camponeses é essencial. “Graças ao apoio que tive, pude aprender sobre a importância do movimento sindical e me descobri dentro dos movimentos sociais”, disse.
Já a professora, diretora da Fetraf-Riachuelo e vereadora eleita pelo município, Cleoneide Acioli Silva reforçou que a formação é transformadora e que a juventude precisa se desafiar cada dia mais. “Fui criada na terra e permaneço na terra porque amo minhas raízes. Minha trajetória como militante iniciou nos grupos de jovens e isso despertou em mim o anseio de mostrar a força da juventude. A formação que tive foi essencial. Trago na bagagem toda experiencia que adquiri enquanto militante e o movimento sindical também foi minha universidade. Os jovens camponeses precisam ocupar os espaços e lutar para criar condições viáveis de viver do campo com autonomia”, concluiu.
Sobre os Ciclos de Debates
Todas as sextas-feiras, as agricultoras e agricultores familiares se reúnem, virtualmente, para debater um importante assunto no Ciclo de debates. Sempre às 9h30, com mediação de Vivian Libório, Assessora Técnica da Federação dos Trabalhadores na Agricultura Familiar do estado da Bahia (Fetraf-BA),
Os ciclos fazem parte de um processo preparatório de construção das pautas que serão levadas ao V Congresso Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar e é uma oportunidade para organizar a categoria na luta contra os retrocessos. O próximo ciclo acontce na sexta-feira (21/05) e o tema será "Política Agrícola, Meio Ambiente, Sucessão e Renda".
O primeiro Ciclo de Debates aconteceu no dia (9/04) e trouxe para discussão o assunto “Formação”. O professor e Assessor de formação e elaboração da Fetraf-SC, Neuri A. Alves, foi o facilitador.
Reforma Agrária, Territórios e Acesso à Terra, foi o tema do 2° Ciclo de debates, realizado no dia (16/04). Desta vez, a palestra ficou a cargo do Professor Titular da Universidade Federal Fluminense e Coordenador do Laboratório de Estudos de Movimentos Sociais e Territorialidades (LEMTO ), Carlos Walter Porto-Gonçalves. Já o 3° Ciclo de Debates da Contraf-Brasil, realizado no dia (23/04), discutiu assuntos relacionados à luta das mulheres e recebeu como palestrante a economista, mestre em sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e doutoranda em Ciências Sociais, Desenvolvimento e Agricultura pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro, Luiza Dulci.
A 4° rodada do Ciclo de Debates da Contraf-Brasil, realizado no último dia (30/04)), trouxe luz à discussão de importantes aspectos sobre Organização da Produção, Cooperativismo e Comercialização e contou com a colaboração do professor da Universidade Federal do Recôncavo Bahiano (UFRB), Silvio Porto.