No Dia Mundial da Água, 22 de março, os agricultores familiares alertam que em meio à crise hídrica do mundo, o atual Governo brasileiro tem estimulado mais os modelos de produção que colocam em risco o futuro das águas. Isso porque o modelo adotado pelo Estado como meio central, o agronegócio, provoca uma série de impactos negativos para a água e meio ambiente.
A tendência pode ser constatada quando olhamos para as políticas públicas que destinam recursos para o Plano Agricultura e Pecuária de 2016/2017 na ordem de R$ 202,88 bilhões de crédito para a agricultura empresarial brasileira e apenas R$ 30 bilhões para o Plano Safra da Agricultura Familiar no mesmo período.
Para a CONTRAF BRASIL, isso representa um retrocesso do país comparado ao restante do mundo, pois a preservação da Água é um dos 17 objetivos da agenda 2030 da ONU para o Desenvolvimento Sustentável, que devem ser cumpridos até 2030.
Infelizmente, no Brasil, ainda se verifica a tendência do capital financeiro agrário, industrial e comercial, o chamado agronegócio que se pauta na especialização produtiva pela monocultura voltada para a exportação, produção em larga escala, o uso indiscriminado de agrotóxicos 'veneno', tudo numa visão predatória de exploração dos ecossistemas e dos recursos naturais.
A pesquisa do IBGE de 2000 a 2010 mostrou que as grandes lavouras são responsáveis por 236.600 km² de áreas desflorestadas, quase o tamanho do Estado de São Paulo. Isso representa 65% do total de desmate, sendo as áreas de pastagens os outros 35% do desflorestamento. No período da pesquisa, a atividade ocupou 127.200 km² de áreas da Amazônia ou da Mara Atlântica.
Ainda, nos anos de 2010 a 2012 a expansão das grandes fronteiras agrícolas, ou seja, do agronegócio, intensificou-se sendo responsável pelo desmatamento de 77.520 km² 68% do total do desmatamento e a expansão das pastagens, criadores de gado, respondeu por 28% do desmate.
“Enquanto governos de outros países trabalham em direção a sustentabilidade e agroecologia, o Brasil segue na contramão da preservação dos recursos naturais, incluindo o hídrico. Nós agricultores familiares, que temos a água como fonte de vida, nos preocupamos com esse modelo de produção que o governo tem priorizado e vamos fazer os enfrentamentos necessários para defender uma produção agroecológica dos alimentos do nosso país, ou seja, protegendo a água e as nascentes”, pontua Viviane Oliveira, coordenadora do Meio Ambiente da CONTRAF BRASIL.
Segundo a pesquisa realizada pela FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) e pelo INCRA (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), a agricultura familiar favorece as práticas produtivas ecologicamente mais equilibradas, como a diversificação de cultivos, o menor uso de insumos e a preservação do patrimônio genético. Isso significa que a água é um bem preservado, como também produzido nas pequenas propriedades rurais.
“O agricultor familiar é quem preserva a água, como também produz água. Nossa ideia é de que isso fosse mais além e que o Ministério do Meio Ambiente pudesse levar as pequenas propriedades mais incentivos de preservação da água por meio de projetos”, diz Marcos Rochinski, coordenador geral da CONTRAF BRASIL, afirmando que o agricultor familiar convive no espaço de produção, portanto preservar a água faz parte do seu cotidiano, diferente do que acontece nas lavouras do agronegócio que acabam com as nascentes e desmatam grandes áreas para produção de soja e cana, por exemplo.
Água no Mundo
De acordo com a ONU-Água, um bilhão de pessoas carece de acesso a um abastecimento de água suficiente e atualmente 768 milhões de pessoas não têm acesso à água tratada. Dentre as causas de abastecimento inadequado de água incluem o uso ineficiente, a degradação da água pela poluição e a superexploração das reservas de águas subterrâneas.
A ONU prevê que, em 2030, a população global vai necessitar de 40% a mais de água, dado ligado diretamente nas questões da produção de alimentos e aponta que haverá a necessidade de 35% a mais de alimento e 50% a mais de energia.
Em 2018 Brasília sediará o Fórum Mundial da Água – evento que ocorre a cada três anos e é o maior evento do mundo com a temática dos recursos hídricos. Na agenda 2030 da ONU prevê 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que devem ser cumpridos até 2030, sendo que um dos objetivos — o número seis — busca “assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todos”.