A audiência com Fernando Haddad, ministro da Educação (MEC), na tarde desta quarta-feira (11), reuniu lideranças da FETRAF-BRASIL, no gabinete do ministro, para tratar da demanda apresentada pela entidade. Dentre as propostas de reivindicação, ampliação dos cursos técnicos e profissionalizantes específicos para agricultores familiares e, retomada dos projetos de formação e elevação de escolaridade promovidos em parceria com a organização sob metodologia da pedagogia da alternância.
Ao longo do tempo a FETRAF-BASIL enfrenta inúmeros desafios para criar meios de promover a permanência dos agricultores familiares na terra. A criação de creches, programas de inclusão digital, qualificação profissional e fomento para organização produtiva caracterizam-se como instrumentos para efetivar essa permanência.
Segundo Elisângela Araújo, coordenadora Geral da entidade, mais do que esses meios, a ?retomada de projetos como Saberes da Terra que possuem nossa essência são muito importantes. Assim como a ampliação de escolas técnicas e espaços nas universidades federais? declarou.
O Saberes da Terra é um projeto desenvolvido em 2007, com o objetivo de garantir acesso dos jovens a escolarização de nível fundamental integrando a qualificação social e profissional, sob uma metodologia que vincula educação, trabalho e sociedade, mas que enfrenta dificuldades para ser posto em prática devido a falta de apoio dos estados e municípios.
Além de questões estruturantes, a necessidade de implantação de projeto educacional voltado para práticas agroecológicas foi tema explorado durante audiência.
Para Marcos Rochinski, secretário Geral da FETRAF-BRASIL, é ?preciso efetivar um projetos político pedagógico nas escolas que contemplem a realidade da agricultura familiar. As escolas técnicas já existentes formam profissionais para o mercado. Eles tem dificuldade, por exemplo, de orientar a transição de produção da agricultura familiar tradicional para práticas agroecológicas?, explicou.
O argumento justifica a importância realizar projetos de capacitação e formação em parceria com a FETRAF-BRASIL uma vez que ?por mais capilaridade que o Estado tenha, não consegue chegar na base?, disse Rochinski.
Relembrando os projetos de formação para agricultores familiares realizados pela Central Unica dos Trabalhadores (CUT), Altermir Tortelli, deputado estadual (PT-RS), nomeou-os de ?laboratório?, disse que se comparados ao sistema de ensino formal demonstram realidades distintas e, apontou estimativa.
?Cerca de 90% dos estudantes que se formam pelas escolas rurais permanecem no campo?. Para o deputado, um dos maiores desmontes da produção de alimentos está na falta de educação específica à juventude rural.
A carência de escolas rurais contribui cada vez mais para o êxodo rural brasileiro. A exemplo, Celso Ludwig, coordenador de Habitação da FETRAF BRASIL citou o fechamento de 380 escolas no campo no Rio Grande do Sul. As crianças foram transferidas para escolas nucleadas ? instaladas em municípios com mais de 50 mil habitantes ? sob o mesmo sistema de ensino formal.
Sensibilizado e disposto a criar mecanismos que promovam o acesso de qualidade à educação aos trabalhadores da zona rural, Fernando Haddad disse que pretende criar, com base nas experiências das escolas agrícolas e na própria legislação da educação, um plano de recuperação da educação no campo. Para isso, propôs a criação do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) no Campo, e participará da Caravana da Educação, evento no qual durante dois meses o ministro viajará pelos principais estados do país para conhecer a realidade da educação no campo transmitida sob a metodologia da pedagogia da alternância, com visitas às experiências de sucesso e as que enfrentam dificuldades.
Haddad também irá inteirar-se sobre o processo de licenciatura no campo.
?Quero usar esse ano para formular políticas de educação para o campo?, declarou.
Maria Josana de Lima, coordenadora de Formação Sindical da entidade atentou para a questão do transporte. ?Reconhecemos o avanço que tivemos no governo Lula, mas não podemos esquecer que criança tem que ter veículo para ir à escola, não podemos permitir o que ainda acontece em muitas regiões. Crianças de 4, 5 anos indo para escola em paus-de-arara?, observou.
FETRAF-BRASIL no GT da Educação
O ministro da Educação convidou a FETRAF-BRASIL para integrar o GT Nacional de Educação no Campo. Com a primeira reunião marcada para a próxima sexta-feira (13), o objetivo que é os movimentos sociais discutam os rumos da educação no campo. O GT atuará sob coordenação do MEC.