No meio do sertão pernambucano, quase na divisa com o Ceará, o município de Ipubi comemora os resultados de uma decisão inovadora na gestão do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Desde 2011, as mulheres passaram a ter prioridade na seleção dos agricultores atendidos. Hoje, elas representam 83% dos fornecedores do programa Compra Direta Local da Agricultura Familiar, na cidade. São 266 famílias chefiadas por mulheres, em um universo de 320 que vendem o excedente da produção para o governo municipal.
Com pouco mais de 28 mil habitantes, Ipubi tem 70% de sua população concentrada em pequenas propriedades rurais. São famílias de baixa renda, que vivem da produção de frutas e verduras, leite e carne de caprinos, ovinos e outros pequenos animais. Algumas comercializam seus produtos em feiras e mercados da cidade. Outras dependem do programa de compra direta para garantir renda média de R$ 250 mensais.
O PAA municipal é executado por meio de convênio entre a prefeitura de Ipubi e o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS). Atualmente, o município está no quarto convênio. Nos três anteriores, entre 2006 e 2009, a proporção de homens e mulheres na compra direta era praticamente oposta à atual, diz o engenheiro agrônomo e coordenador do programa em Ipubi, Raniele Pontes.
A decisão de priorizar mulheres no PAA, a partir de 2011, seguiu orientação do governo federal. A prefeitura de Ipubi superou de longe a diretriz. Não sem descontentamento dos homens, antes privilegiados pelo programa. “Não teve um que aprovasse no começo”, lembra Pontes. Mas os benefícios da mudança vieram rapidamente e logo as reclamações deram lugar a elogios. “Hoje, a maioria acha que o dinheiro do programa é mais bem gerenciado nas mãos das mulheres.”
Alimentação – Os produtos adquiridos pela compra direta são doados para famílias em insegurança alimentar e complementam a alimentação em creches, escolas públicas, hospitais, Bancos de Alimentos e Cozinhas Comunitárias. Em 2010 e 2011, foram mais de 6 mil toneladas de alimentos compradas diretamente das famílias de agricultores cadastradas no PAA municipal.
Semanalmente, a central do programa na prefeitura recebe a produção destinada à compra direta, pesa, registra e calcula o valor para cada família. O pagamento é mensal. “Nós também fazemos reuniões com a comunidade para ouvir as demandas e percorremos as propriedades para dar assistência técnica e cursos”, diz o coordenador do programa. A diferença, assinala Pontes, é marcante entre mulheres e homens. “Elas são mais atenciosas e muito mais assíduas nos treinamentos.”
Outro resultado positivo é a busca de independência das famílias, por meio de parcerias com organizações não governamentais (ONGs). Além de levar benfeitorias às propriedades rurais, um grupo de famílias – a maioria chefiada por mulheres – conseguiu montar uma pequena indústria de produção de polpa de frutas congeladas. “Esse é o tipo de coisa que nos dá satisfação. A maioria dessas mães de família nem tinha conta bancária ou acesso a renda antes de participar do programa. Hoje, elas gerenciam melhor do que os homens o dinheiro que recebem.”
É o caso de Efigência Rodrigues Rocha, que participa do PAA de Ipubi desde 2006. Ela trabalha sozinha no cultivo de banana, manga, coentro, alface, couve e berinjela. Toda segunda-feira de manhã, entrega a produção na sede da Ação Social. Com a venda dos produtos, recebe cerca de R$ 220 por mês. “Antes ficava na feira tentando vender. Agora, tenho certeza da venda e posso fazer compromisso com o dinheiro, porque sei que vou receber. É uma ajuda boa”, diz Efigênia, que vive com uma filha de 14 anos e é beneficiária do Bolsa Família.
*Fonte MDS