FETRAF/BRASIL participa do 12º CONCUT.

14/10/2015 - 11:15

Em encontro histórico, Dilma, Lula e Mujica atacam movimento golpista e Central cobra foco no desenvolvimento durante abertura política do encontro

A CUT abriu oficialmente a 12ª edição de seu Congresso Nacional (CONCUT) na noite desta terça-feira (13), em São Paulo. E em tempos de criminalização da política, os trabalhadores e trabalhadoras que lotaram um dos auditórios do Palácio de Convenções do Anhembi mostraram saber exatamente de qual lado estão.

Antes mesmo do início da cerimônia, que contou com discursos inspirados em defesa da democracia, os cerca de cerca de três mil delegados e delegadas puxaram coros contra a Rede Globo (“a verdade é dura, a Rede Globo apoiou a ditadura”), contra o golpe e em defesa da Dilma Rousseff que elegeram (“eu quero a Dilma que elegi, fora o Cunha e leva junto o Levy”).

Presidente Nacional da CUT, Vagner Freitas, foi um dos primeiros a destacar que o momento é de o governo virar o jogo e fazer uma tabela com os movimentos sociais por menos cortes e mais desenvolvimento. Para ele, a Central pode contribuir como protagonista nesse processo, desde que a presidenta Dilma esteja aberta ao diálogo.

“Precisamos sair juntos da crise, esse é o papel da sociedade civil organizada. É preciso virar a página desse terceiro turno no Brasil.”

Vagner ressaltou ainda as lutas da CUT durante os últimos três anos em que esteve à frente da CUT.  Apontou a Marcha das Margaridas de 2015, que reuniu mais de 100 mil mulheres em Brasília, o combate ao PL 4330 (projeto de lei da terceirização sem limites) e falou sobre a defesa da democracia, um dos temas do 12º CONCUT.

”Não vai ter golpe e estamos prontos para enfrentar os golpistas. Já fomos, estamos, e voltaremos às ruas para defender o mandato da presidenta Dilma. A classe trabalhadora não errou, nos 32 anos da história da CUT e incomodamos tanto que estão querendo destruir a dignidade da classe trabalhadora”, avaliou.

Projeto é o alvo

Em um discurso também marcado pela defesa da democracia, Dilma deixou o estilo mais técnico de lado e elevou o tom contra os ataques ao seu governo. Segundo ela, as tentativas de golpe por conta do projeto de desenvolvimento, inclusão social e o combate às desigualdades que representa.

Ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente do Uruguai Pepe Mujica, ela elogiou a CUT por adotar a paridade, que definiu como uma opção responsável por apontar um caminho que aponta a importância das mulheres nas lutas do país e explicou o que levou aos ajustes fiscais.

A presidente ressaltou que o Brasil lutou nos últimos seis anos contra a crise internacional, mas que os instrumentos de geração de emprego e renda utilizados até então atingiram o limite. Diante disso, defendeu as medidas adotadas nesse início de segundo mandato para readquirir equilíbrio fiscal, diminuir a inflação e voltar a crescer.

Dilma lembrou também que as pedaladas fiscais são atos administrativos também usados pelos governos que a antecederam. “Não tivemos nenhum interesse nesses atos nada que não seja executar nossas políticas de investimento”, falou.

Estabilidade política

Para mudar o cenário, disse a presidenta, é necessária a estabilidade política que a oposição não quer.

“Há uma busca incessante da oposição de encurtar seu caminho ao poder, de dar um salto e chegar ao poder fazendo um golpe. Disse fazendo porque se trata de construir de forma artificial o impedimento a um governo eleito democraticamente por 54 milhões de votos. Jogam sem nenhum pudor no quanto pior, melhor. E pior para a população é o melhor para eles.”

A presidenta ressaltou também que a oposição vota contra medidas que ela mesma criou no passado quando estava no poder e tratou da aliança dos setores conservadores com os grandes meios de comunicação para minar sua gestão. “Envenenam a população todos os dias nas redes sociais e na mídia e o pior é que espelham o ódio e a intolerância”, criticou, sendo interrompida, nesse momento, por um uníssono “o povo não é bobo, abaixo a Rede Globo”.

Ao dizer que a hora é de unir forças, combater o pessimismo e a intriga política, Dilma desafiou. “Quem tem força moral, reputação ilibada ou biografia limpa o suficiente para atacar minha honra?”

Brasil no comando

Lula classificou a intervenção de Dilma como um divisor de águas e, para ele, a presidenta assumiu a postura de quem foi escolhida por 55 milhões de brasileiros.

“Hoje deixamos de ter apenas uma presidente para ter uma líder política. Hoje a Dilma não fez um discurso de presidenta, com relatório do que cumpriu, mas veio dizer ‘eu sou a presidenta desse país com voto conquistado pelo povo e vou exercer meu mandato na sua plenitude. Hoje é como se ela estivesse falando, mulheres e homens do meu Brasil, não deem ouvidos aos nossos adversários porque eu assumi definitivamente a presidência do Brasil”, classificou.

Porém, o ex-presidente cobrou que Dilma vire a chave da política econômica, de um modelo de corte, para outro de crescimento e geração e emprego.

Ao lado de Mujica, Lula tratou ainda o papel de protagonismo que o Brasil possui para fazer com que a América do Sul tenha um papel de relevância no mundo.

“Nunca houve um acumulo de eleição de gente de esquerda e comprometida com os trabalhadores como nos últimos 15 anos na nossa querida América do Sul. Acho que é exatamente por isso que estamos vivendo esse momento de enfrentamento. Acho que o destino da América do Sul está definitivamente ligado à capacidade que o Brasil tem de juntar seus parceiros e construir uma política conjunta sul-americana.”

Unidade latina

Pepe Mujica falou sobre a dificuldade de enfrentar uma burguesia débil e ignorante, mas reforçou que o antídoto para isso é a unidade, sem que isso signifique vender princípios em troca de governabilidade.

“É preciso unidade para governar, mas isso não significa hipotecar a pátria. Significa construir uma casa que nos proteja à todos. Eu sei, brasileiros, que vocês estão passando por um momento difícil. Mas eu aprendi algo durante a minha vida: a luta que se perde, é a que não se luta”, definiu.

Outro desafio, apontou um dos maiores populares presidentes da América do Sul na história, é combater a sedução de tornar-se o que se combate. “Os trabalhadores não podem deixar que a cultura burguesa os iludam. A verdadeira pobreza é gastar a vida preocupado em viver acumulando, acumulando, acumulando e acumulando. Companheiros da CUT, temos que lutar por salários melhores, mas sem se iludir com a cultura burguesia.”



Congresso de unidade

O discurso comum dos presidentes não significou ausência de pluralidade. Ao contrário, a quantidade de organizações presentes no palco durante a abertura do 12º CONCUT deixou clara, antes de tudo, a importância estratégica desse encontro para a unidade da esquerda.

Organizações como MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), MTST (Movimento Nacional dos Trabalhadores Sem Teto), UNE (União Nacional dos Estudantes) e CMP (Coordenação dos Movimentos Populares) foram representadas pela intervenção de uma mulher, negra e jovem, a dirigente do MPA (Movimento dos Pequenos Agricultores), Maria Mazé.

“Trazemos a disposição de concretizar a aliança camponesa e operária por soberania alimentar. Essa aliança é contra golpismo, machismo, criminalização e contra retrocesso. Essa aliança é de classe e em defesa do povo brasileiro e da democracia. Neste país não haverá golpe”, sacramentou. 

 

A Participação da FETRAF/BRASIL

Sindicatos ligados a FETRAF/BRASIL participam do 12º CONCUT e Marcos Rochinski, coordenador geral da Federação, fez suas considerações deste primeiro dia de Congresso.

“O 12º CONCUT acontece em um período muito importante da nossa conjuntura nacional. Um momento em que a CUT, como a maior central sindical das Américas e a 5ª maior sindical central do mundo, demonstra o papel que tem na defesa dos interesses da classe trabalhadora e, sobretudo na defesa da democracia, ou seja, na defesa do processo que respeite as instituições democráticas do nosso país. Todos que discursaram aqui seguiram a visão de prezar pela conquista que os trabalhadores tiveram ao longo dos anos e de preservar a ordem democrática no nosso país, considerando os direitos conquistados pela classe trabalhadora”.

 

“Na avaliação da FETRAF, a CUT continua sendo a maior central sindical e mais importante do país por reunir em seu interior esta relação de campo e cidade. Para nós representantes da agricultura familiar, a nossa participação dentro de uma central sindical, juntamente com os trabalhadores urbanos, é de discutir e aprimorar a importância que temos na soberania e  na segurança alimentar do nosso país”. Destacou Marcos Rochinski.

 

Foto: Roberto Parizotti